Apr 28, 2007

A obrigatoriedade de companhia dos ecos

Estou às voltas com essa reflexão banal do ato artístico reverberado por afinidade, rejeição ou indiferença (aceito sugestões taxonômicas). Tornei-me eco despropositadamente de um filme de Buñuel chamado "Abismos de Pasión", este, por sua vez, eco de "O morro dos ventos uivantes", de Emily Brontë. Vejam, começo a ver o filme e logo na segunda cena dou de cara com uma aproximação de umas das cenas do início do filme que estou escrevendo, além de uma personagem bem próxima da que imaginara para Patrícia, a governanta do meu filme. Isso resvala um pensamento que tenho já há algum tempo: será que existe algum "artístico" natural de obra considerada de arte e, por mais que haja vairações significativas em suas construções, sempre há um residual por onde ela se identificam? Ou será que é simplesmente uma falta de originalidade por parte das pessoas que se dedicam a fazer arte e elas, na verdade, passam a história reiterando acerca dos mesmos temas com as mesmas formas? Por favor, artistas, me ajudem nesta resposta... Por exemplo, do poema de Góngora transcrito na última postagem fiz um poema, mais brincadeira do que poema, quando cursava uma disciplina na Unicamp que se debruçou um pouco sua obra. Até que ponto se pode notar alguma semelhança entre eles? Definitivamente os espanhóis têm rodado significativamente minha produção artística.

Eco

sempre
que sua avó curtia um cochilo
mais longo
luisinho
assim que a velha
abria os olhos
dizia vó
passou um ano

quando
esta se reunia com as amigas
estou para completar mil
quinhentos e sessenta
e um anos
aos sábados

e uma hora
rastejava
à cozinha
em busca do chá
aquelas riam baixo
que a coitada
andava variano

3 comments:

Isaac Frederico said...

aloha gutou !
cara, adorei o poema, pela simplicidade e ao mesmo tempo insólito tema abordado, ou digamos tema abordado insolitamente hehehe
fiquei imaginando "vó, passou um ano" e a coroinha em confusão nebulosa =)
abraços

Anonymous said...

Assisti a uma entrevista com um autor (não me recordo o nome) de poesias, em que a entrevistadora perguntava se ele não tinha medo das influências, como a maioria dos autores tem. Ele respondeu que não, mas a justificativa me pareceu tão vaga e pouco convincente, que só me lembro da cara de pouco caso dele. Eu teria medo. As vezes me pego dizendo coisas que não sei se são minhas ou se vieram de outra pessoa, e sinto medo por não saber quanto de mim sou eu, quanto de mim é o resto do mundo. Esse medo me levou a escolher melhor minhas influencias, apesar de eu ter certeza de que uma certa gata preta faz parte da minha personalidade (só eu mesmo pra deixar uma coisa dessas).
Cinema é complicado. É justamente pela grande quantidade de elementos em comum, que os filmes podem ser enquadrados em generos, o que é potencialmente enfadonho. Depois que o Woody Allen começou a recorrer à Beldade, comecei a questionar se ainda há quem vá ao cinema pela história.

Anonymous said...

Sobre o poema.
Ai como eu odeio a crueldade das crianças! Eu era uma criança ultra cruel, acho engraçado mas não me orgulho disso.
Muito cara de fim de tarde de domingo, esse poema.
Adoro as lembranças que resgato através do que escreves!