Oct 30, 2007

Revés

Parto hoje pra mais um filme... Acho interessantíssima a experiência de participar de um set de filmagens, ver as transposições possíveis do abstrato para o real, as difíceis traduções do que é texto para o que pode (ou deve) ser encenado. A história em si não é muito complexa. Trata-se de um cara de 28 anos em dúvidas se pula ou não de um penhasco. Ele pula, começam a passar flashbacks que revelam indícios da causa que o levou a ação tão extrema. Ao fim do filme... Ah! Não vou contar o fim do filme, mas prometo uma grande reviravolta. Tenho a péssima mania de tratar produção artística como objeto de estudo. Sempre conto aos amigos os fins de livro, filmes, música etc. Parra dissipar a confusão desta postagem, apresento a cena que mais gosto no filme e já me disponho a enviar uma cópia ou convidar para a projeção quem se interesse.

Cena 3, amanhecer, interna, quarto de Ricardo adulto:

Ricardo (adulto) está deitado em sua cama, de frente, com as mãos cruzadas atrás da nuca. Ele está nu, mas coberto por um lençol. A seu lado, sobre seu braço direito, repousa Simone, uma mulher muito bonita.

RICARDO:
Não rola,né?

SIMONE:
É bom... tudo é muito bom, mas não sei. Tem dias que tô muito feliz, em outros...

RICARDO:
Não posso ser responsável por nenhum dia triste seu.

Simone tomba levemente o corpo, puxando o lençol para cobrir-se, deixando Ricardo exposto. Ela se senta na cama de costas para o namorado.

P.S.: estou escrevendo minha primeira animação, ainda bastante empolgado.

Oct 28, 2007

Próximo projeto em passos curtos

Quanto mais tempo de silêncio, mais difícil, acho, é rompê-lo. Com a ida a Campinas, a volta aos estudos, os muitos projetos concomitantes, a dificuldade em não ter net em casa, enfim... acho que o que vale deste tempo, e talvez seja proveitoso a outros olhos, são alguns vestígios, sensações etc. Descobri, literalmente, que a arte é um processo contínuo e que uma meta aceitável é a de que cada ato de alguém que a isso se comprometa seja um ato artístico, pleno de suas intervenções na tessitura real. A outra coisa é que tudo que não seja de si exclusivamente deve ser passível de fracasso. Não se pode traçar qualquer plano pessoal no campo da alteridade. Talvez sejam asserções severas demais pra tão pouco tempo, talvez também se alterem amanhã, ou hoje, mas que graça teria alguma coisa nesse mundo se não fossem assim as coisas, tão voláteis. Abaixo, uma parte pequena dos meus novos planos.

A virgem Maria

de alto a baixo
um metro e trinta
cabelos crespos
de passar pente

na saia que rende
há mais de dois anos
algumas das cores
lhe encantam

quis ir ao rosa
dos bordados
por não ver
dor dentro do pano

fugir ao roxo
desbotado
ser como a linha
cerzindo o sono

alguns espelhinhos
costureirados
saíram da renda

por isso chorou
quando veio o padre
erguer-lhe a sainha

como queria
a virgem Maria
subir à terra
das lantejoulas!