Jun 2, 2009

Por um triz



Passei a última semana pensando em desativar este espaço. O ritmo da produção e o vulto que esta e outras obrigações assumiram em minha vida tornaram muito pesado o trabalho de blogueiro, que consiste, não só em postar, mas também em conferir a produção de blogs prediletos, responder às impressões, seguir com as obrigações nos blogs coletivos etc., práticas que faço com muito prazer normalmente, mas que me têm cansado sobremaneira nestes dois últimos meses.

Isso tudo é verdade, mas não toda a verdade. Tenho avançado muito com meus poemas e canções, do ponto de vista técnico e sensível, a despeito do parco amparo daqueles que o deviam amparar (não há como denominar este agente imenso e abrangente de opressão). Por mais que eu tenha reconhecimento de algumas caríssimas pessoas e de outras que admiro muito artisticamente, tenho ficado cada vez mais amargurado com a maioria medíocre em ambas as áreas, que sei não ser nova nem contemporânea e sei ser aparentemente irremediável, a não ser pelo tempo, como em todas as épocas. É preciso deixar claro, especialmente, que não é a veiculação da arte medíocre que mais me incomoda (tudo bem um poeta não muito bom lançar um livro, ou dois, ou cinco ou ainda não termos nenhum compositor maior vivo e jovem com destaque nos últimos tempos), mas é, sobretudo, a teorização acerca do verso e das canções que estes artistas propagam em programas de tv, mesas de debate, eventos literários e afins. Igualmente me incomoda ver alguns colegas bastante talentosos e alijados de espaço, de todo o espaço, até mesmo deste pequeno de onde reclamo. Vale aqui ainda a ressalva de que não recrimino generalizadamente. Considero-me amigo de uma poeta recentemente chamada para um colóquio que com justiça deveria estar em todos os colóquios possíveis.
Também conheço virtualmente um compositor que tem feito muito pela canção e é muito talentoso. O mais comum, entretanto, desola-me imensamente.

Sei que soa arrogante (embora a certeza de que somos todos sacos de carne animados temporariamente, já declarada aqui, me redima um pouco), mas é com muita sinceridade que escrevo estas linhas. Este estar entre – ser saudado por algumas autoridades literárias e cancionísticas, mas não ter espaço para tornar pública minha arte (talvez porque para isso a autoridade seja comercial e não estética) – tem sido realmente muito perigoso pra mim. Não quero também, depois de gênio incompreendido, mobilizar o lugar do coitado, mas tenho tido grande desânimo para tudo e até náuseas físicas quando penso muito nessas questões. Enfim, acho que o espaço razoavelmente público do blog tem sido uma força perniciosa para a minha arte no momento. Esta é atualmente minha segunda parte da verdade.

Detesto dogmas e verdades absolutas, portanto, não o farei eu mesmo, muito menos aqui neste espaço que todos aprendemos a tornar tão querido com estes dois anos. Entretanto, para ter uma vida mais tranqüila pragmática e internamente, para poder recuperar parte da felicidade que já vivi ao terminar uma obra que parece bastante apurada, deixo de viver um pouco neste espaço virtual. Confesso que uma terceira parte da verdade pode ser considerada uma necessidade redescoberta de sair de casa para ver peças, filmes, exposições, visto que não o faço com regularidade nos últimos 15 meses, não o faço quase nunca, na verdade, mas como sou um misantropo reconhecido, não quis colocar isso na conta. Talvez o prólogo de Memórias Póstumas caiba exatamente neste momento, posto que raisonnablement são em torno de cinco os meus leitores mais assíduos. A esses minhas desculpas, aos demais um piparote.

Sendo direto, estou dando tempo neste nos outros espaços em que posto. Certamente erro, por estar certo, assim como antes acertava, quando errava com certeza.