Feb 22, 2011

O valor do processo

Meu avô fez noventa anos há algumas semanas. Como poucas pessoas nessa idade, permanece lúcido, sendo um prazer acompanhar suas muitas histórias (raras vezes ouvi dele uma história repetida) e sua postura sempre humilde em relação à vida.

No dia seguinte à festa, tive a oportunidade de conversar um pouco com ele, relativamente a sós. Foi quando ele me contou de sua infância e que sentia muito não ter aprendido carpintaria com seus tios (meu avô perdeu os pais bem cedo). Com as mãos sobre a barbicha branca, meu avô disse que não entedia por que todos usavam uma forma de madeira e seu tio insistia em fazer os cortes sobre algumas marcas no chão, o que seria muito mais difícil. Ouvindo isso, comentei que talvez o tio de meu avô entendesse o valor do processo. Que antes de ser ou não prático, cortar a madeira diretamente no chão devia despertar ou relembrar aprendizados que ele considerava interessante.

Ah! meu avô soltou brevemente um ar da boca. "Pode ser...", balançou a cabeça afirmativamente.

Tanto quanto a admiração por alguém capaz de ouvir uma pessoa sessenta anos mais nova, ficou-me a sensação de que está aí um dos perdidos de nossos tempos: o valor do processo. Como tudo tem um motivo, um proveito, uma ação, um sentido, pouco importa o processo para se atingir o alvo. O problema é que muito de nossa cultura se deposita no processo. As nuances de significado estão no caminho, não no fim ou no início. À luz dos extremos, publicidade é poesia, auto-ajuda é romance, notícia é crônica, scrap é conto.

Meu avô é do tempo do processo...

Jan 12, 2011

Ótimo 2011

Não sei se há tantos que ainda me acompanham por aqui, mas me senti impelido a explicar um pouco o silêncio.

Sigo escrevendo bastante, sobretudo poesia e canção. Trabalho também com a possibilidade de um romance infanto-juvenil, um livro em verso infantil, uma coletânea de poemas e um novo livro pra 2011. A ver se o tempo vai concordar com tantos planos.

Em 2010, a dissertação de mestrado e o lançamento de zero um, também por sua indicação ao Açorianos e as diversas conversas em torno do livro, me afastaram um pouco deste espaço, ao que pretendo retornar logo e com fôlego.

No mais, um ótimo 2011 a todos, em especial, com arte e paixão! Esperamos um ano novo mais humano e razoável.