tag:blogger.com,1999:blog-4769693630878369702024-03-06T21:27:14.913-08:00_Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.comBlogger326125tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-44646410511151799812014-06-20T09:38:00.002-07:002014-06-20T09:38:32.608-07:00PROCURE O SR. WILD<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Era
um prédio ali, na Dr. Flores. A fachada não sugeria em nada sua importância.
Naquele dia, o céu tinha tirado as nuvens de casa, mas o frio de junho impedia
a chuva. Aproveitei uma pequena brecha no trabalho e a ida de Ana Maria cedo
para a universidade, e fui conferir o grau de piada daquele cartão fosco
entregue por um colega como a melhor saída possível para os meus problemas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">WILD,
centralizado, times new roman, sem tratamento, endereço sucinto, tudo em preto,
sem horários, sem estardalhaços. Que cabotino se chamar de Wild! Ou seria nome?
Sobrenome?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Na
recepção do prédio, o rosto moreno e carrancudo do zelador confirmava o aviso de
uma pequena placa. Assinei – com nome falso – o livro de controle.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Sétimo! – numa voz grave e premonitória.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sem
gentes ou espelho, o elevador subiu silencioso ao andar ordenado. Confesso que
não esperava, por todo o ar de segredo que envolvia aquela visita, a multidão
espremida entre a porta e a bancada de uma senhora branca, gorda, de óculos
enormes de aros de um plástico intransigente. Havia espaço, sim, para mover-se,
mas não são muitas as salas de espera com fila para triagem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quinze
minutos depois, um pouco mais, cheguei à secretária:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Teu nome...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Roberto Vieira – repeti o nome deixado no caderno da entrada, nome pensado para
não ter perguntas “como se escreve?”, para ser repetido o mínimo possível.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
É a primeira vez?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Sim.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Cento e cinquenta reais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Meu
colega havia me antecipado o valor e levei o dinheiro, em separado. Ela contou
rapidamente e confirmou:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Só aguardar.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu
não esperava recibo, mas toda aquela coisa de não haver amarras, de não deixar
vestígios, me incomodava um pouco. Eu sou, afinal, um corretor de imóveis,
profissão em que rápido se aprende que é melhor ter normas, procedimentos,
garantias, para que tudo corra bem. E mesmo assim arrumam formas de contornar a
gente...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Me
escorei numa nesga de parede e fiquei observando. As pessoas entravam e saíam
rapidamente da porta ao fundo do cômodo. Tentei algumas hipóteses para ligar
nós todos ao senhor Wild, mas eram roupas diferentes, idades diferentes. Tinha
até uma criança que, pelos trajes e pela hora, estava matando aula. O homem
entrincheirado naquela porta não resolvia só encrencas sentimentais, isso era
certo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O
tempo que demoravam lá dentro não era exagerado. Na escala da espera: menos do
que num clínico geral, bem menos do que num oftalmologista, muito menos do que
num obstetra, impensavelmente menos do que num advogado. A impressão era que se
passavam dez ou quinze minutos somente, uma conversa ligeira, e os clientes
saíam com uma desconfiança revestida de alegria estampada no rosto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Com
esse fluxo todo, duas horas mais tarde era a minha vez de ouvir alto o meu
nome, Sr. Roberto Vieira, e entrar no escritório.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Fiquei
bastante impressionado com o que encontrei! Nem falo do Sr. Wild, que também
não era o esperado. Caucasiano, careca, ruivo pelo cavanhaque, olhos castanhos,
de greta, magro a ponto de preocupar. Falo do espaço, que não tinha uma folha
de papel que fosse, que se restringia a uma mesa, três cadeiras confortáveis,
idênticas, e um computador Mac, último tipo, que custa perto dos dez mil reais
– sonho de consumo que não vou realizar quando tiver dinheiro para fazê-lo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sua
voz, óbvia e macia, rompeu o espanto:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Sente-se, por favor, Sr. “Roberto” – ele fez as aspas com os dedos, enquanto eu
me sentava, um pouco mais desnorteado pelo gesto. – Em que posso ajudá-lo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu
abria e fechava as mãos, constrangido. Aquela sala poderia ser um pouco mais
acolhedora. Por outro lado, dava a impressão de que não havia nada em que eu
pudesse me segurar ou esconder dele. Eu hesitava um pouco, ele deixava que eu
hesitasse, como um pescador que dá linha para fisgar melhor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Sr. Wild, eu...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Sr. Wild – ele corrigiu -, é alemão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Sr. Wild, desculpe, há cerca de dois meses, eu traí minha mulher...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Sem
dizer nada, mas o tempo todo digitando alguma coisa no computador, ele ouviu a
história da cliente que havia entrado em contato comigo para alugar um flat, a
tarde de visitas em diferentes lugares no Rio Branco, em Petrópolis, no Centro,
na Auxiliadora, a forma como sua saia um pouco acima das coxas e justa foi
mexendo comigo...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Poupe-me dos detalhes, Sr. Roberto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Até
que começamos a noite num apartamento mobiliado no Moinhos de Vento. Ana Maria
(eu omiti para ele o nome com “minha esposa”) não suspeitou de nada naquele
dia, mas o jeito como a cliente tentou repetir os encontros nas semanas
seguintes acabou levantando suspeitas. A mensagem atrevida e romântica no
Facebook, vista de soslaio numa atualização de celular, foi a gota d’água. E há
três semanas nada de sexo, nada de beijos, nada de agrados, nada de nada.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Entendo, entendo... E você veio aqui para tentar limpar sua reputação com sua
esposa?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
É isso? – perguntei meio para mim, porque também não sabia bem o que estava
fazendo ali. Confirmei em seguida. – É, é isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Enquanto o senhor falava eu fiz algumas pesquisas, contatos, e o serviço vai
custar três mil reais. – E talvez respondendo à minha surpresa. – O senhor pode
fazer de duas vezes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Tá – foi o que deu pra dizer.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
O senhor receberá um e-mail indicando os dados bancários.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Eu
fiquei sem saber se tudo era aquilo ou se tinha mais alguma coisa pra acontecer.
Eu não disse a ele os meus dados, nem mesmo citei Ana Maria nominalmente. Acho
que o sr. Wild estava acostumado àquela indefinição.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Um bom dia, Sr. Roberto. – E ainda deu tempo para uma leve ameaça antes que eu
ganhasse a sala de espera. – E nem preciso dizer o que pode acontecer se o
senhor não pagar, certo?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Só
assim entendi que cara era aquela que as pessoas saíam do escritório do Sr.
Wild. Eu acabava de pagar três contos por um perdão? Não foi bem isso, acho que
o termo que ele usou foi “limpar a reputação”. Mas o que é isso? Ele vai apagar
a memória da Ana Maria? Não, ele não chegaria tão longe e tão silenciosamente
se tivesse algum tipo de violência na parada. O Paulo do escritório disse que é
o homem mais rico do estado e não tem político eleito que não tenha lhe
solicitado algum serviço, e, por isso, não esteja em suas mãos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Tentando
construir na cabeça as linhas desse mistério eu cheguei na imobiliária. O Paulo
me olhou com uma cara de “e aí?” e eu respondi com uma boca de “e aí o quê?”.
Atendi a uma dezena de clientes antes de sair para almoçar, mais tarde e
sozinho. Resolvi pesquisar o nome do Sr. Wild no Google... Nada! Se não tem
ali, não existe. No fim do dia, ainda mandei um e-mail pro Paulo, que ele só
veria na manhã seguinte, sugerindo que ele e o comparsa dele me devolvessem o
dinheiro ou eu eles iam ver...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Pelo
comecinho da noite cheguei em casa. Somos casados há cinco anos, não temos
filhos. Nenhum dos dois chegou ainda a um lugar confortável na carreira, então
esperamos. Em tempos normais, seria uma maravilha, mas atualmente é um inferno
estarmos no mesmo lugar, mais ou menos apertado, às vezes fazendo as mesmas
coisas, como assistindo TV ou comendo, e sem trocar nem uma palavra. O celular
quebra um galho nessas horas, mas depois de dez vezes que você joga qualquer
coisa é fácil perceber que joguinhos são joguinhos e o clima está pesado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Ao
ver como ela continuava agindo como se eu não estivesse ali, fechei a cara e
passei duas longas horas amaldiçoando o começo daquele dia. Talvez eu tivesse
ganhado mais preparando uma surpresa pra ela de manhã ou então pedindo perdão
pela centésima vez. Toda aquela patifaria do prédio descascado, atendentes
mal-humorados, o alemãozinho ameaçador, parecia uma peça de guris, enquanto eu
tinha todo um mundo de adulto pra resolver. Talvez fosse o caso de desistir,
simples desse jeito, começar a falar sobre o divórcio – falar sobre o divórcio
já é o divórcio em si - e tentar achar um jeito não ridículo de ser sozinho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Mas
é que eu amo essa mulher!<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">A
hora de dormir é pelo menos uma pausa no constrangimento. Fomos deitar em
silêncio, quase na mesma hora. Fiquei ali, remoendo o dia, remoendo a vida, e
os pensamentos começaram a não conseguir mais se ligar um no outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Na sexta é aniversário da Gabi. Você vem comigo? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Quantas
vezes ela remontou dentro dela essa frase pra que saísse assim, entregando tudo
e sem entregar nada? Que saudades eu estava de ouvir aquela voz.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 42.55pt;">
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">-
Vou sim, Ana. Daria tudo pra ir com você. – Isso foi um riso abafado?<o:p></o:p></span></div>
<span style="font-family: "Comic Sans MS"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">Filha da puta esse Sr.
Wild!</span>Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-11377054549842947952011-02-22T12:37:00.000-08:002011-02-22T13:01:07.521-08:00O valor do processoMeu avô fez noventa anos há algumas semanas. Como poucas pessoas nessa idade, permanece lúcido, sendo um prazer acompanhar suas muitas histórias (raras vezes ouvi dele uma história repetida) e sua postura sempre humilde em relação à vida.<br /><br />No dia seguinte à festa, tive a oportunidade de conversar um pouco com ele, relativamente a sós. Foi quando ele me contou de sua infância e que sentia muito não ter aprendido carpintaria com seus tios (meu avô perdeu os pais bem cedo). Com as mãos sobre a barbicha branca, meu avô disse que não entedia por que todos usavam uma forma de madeira e seu tio insistia em fazer os cortes sobre algumas marcas no chão, o que seria muito mais difícil. Ouvindo isso, comentei que talvez o tio de meu avô entendesse o valor do processo. Que antes de ser ou não prático, cortar a madeira diretamente no chão devia despertar ou relembrar aprendizados que ele considerava interessante.<br /><br />Ah! meu avô soltou brevemente um ar da boca. "Pode ser...", balançou a cabeça afirmativamente.<br /><br />Tanto quanto a admiração por alguém capaz de ouvir uma pessoa sessenta anos mais nova, ficou-me a sensação de que está aí um dos perdidos de nossos tempos: o valor do processo. Como tudo tem um motivo, um proveito, uma ação, um sentido, pouco importa o processo para se atingir o alvo. O problema é que muito de nossa cultura se deposita no processo. As nuances de significado estão no caminho, não no fim ou no início. À luz dos extremos, publicidade é poesia, auto-ajuda é romance, notícia é crônica, scrap é conto.<br /><br />Meu avô é do tempo do processo...Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-6840551933415196652011-01-12T07:35:00.000-08:002011-01-12T07:43:46.468-08:00Ótimo 2011Não sei se há tantos que ainda me acompanham por aqui, mas me senti impelido a explicar um pouco o silêncio.<br /><br />Sigo escrevendo bastante, sobretudo poesia e canção. Trabalho também com a possibilidade de um romance infanto-juvenil, um livro em verso infantil, uma coletânea de poemas e um novo livro pra 2011. A ver se o tempo vai concordar com tantos planos.<br /><br />Em 2010, a dissertação de mestrado e o lançamento de <em>zero um</em>, também por sua indicação ao Açorianos e as diversas conversas em torno do livro, me afastaram um pouco deste espaço, ao que pretendo retornar logo e com fôlego.<br /><br />No mais, um ótimo 2011 a todos, em especial, com arte e paixão! Esperamos um ano novo mais humano e razoável.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-27288870243358875002010-11-12T15:00:00.000-08:002010-11-12T15:05:02.765-08:00Da força das coisasComo é ler mais de 700 poemas de autores diferentes? E, eventualmente, imaginar seus autores, ou, ao menos, o rosto que seus autores nos mostram naqueles versos? Quantas pessoas têm essa oportunidade? Por um instante pensei nessas perguntas, antes de começar o trabalho árduo, mas agradável, de ler e selecionar os poemas que estarão presentes nos ônibus e trens de Porto Alegre em 2011.<br /><br />Recebi o montante de poemas na manhã do dia 29 de setembro, poemas esses que já haviam passado por uma seleção prévia quanto à formatação e ao número de versos, de acordo com o edital. Com a orientação de escolher em torno de cinquenta deles para uma reunião um mês depois, dividi a leitura em sessões diárias de uma ou duas horas quando fui selecionando grupos cada vez menores, até conseguir cinquenta e dois. Passado o prazo, na tarde desta segunda-feira, 25 de outubro, embora todos os cinco jurados (mais Andréia Laimer, Cristina Macedo, Lorenzo Ribas e Sidnei Chneider) estivéssemos com nossos poemas prediletos debaixo do braço (na verdade em pastas, mochilas, envelopes e caixas), nos dedicamos por mais de três horas e meia para chegar ao número exato de quarenta e oito poemas vencedores, a demonstrar, pelo tempo dedicado, que um bom poema é algo que está muito longe de ser consensual, mesmo entre pessoas do ramo.<br /><br />Com a oportunidade de participar da seleção desta 19ª edição do “Poemas no Ônibus e no Trem” (dezenove anos da iniciativa!), muitas outras questões, além daquelas iniciais, e algumas hipóteses conviveram comigo pelo tempo da triagem. Primeira hipótese: Porto Alegre é a capital mais literária do país. Sinceramente não creio que outras capitais tenham o mesmo índice de participação popular e um concurso tão consistente e há tanto tempo! Primeira pergunta: mas como assim a literatura não tem mais a importância social que tinha? Diz isso para o cidadão que selecionou um poema seu, verificou as regras do concurso e enviou seu poema para participar do certame, diz isso pra ele. Ou como cogitou o professor Luís Augusto Fischer, e se esse cidadão comentou com mais cinco ou seis amigos que participaria? Teríamos cerca de quatro mil pessoas envolvidas direta ou indiretamente com o concurso. Segunda hipótese: o concurso diz muito sobre o gosto da maioria. Encontramos sonetos, redondilhas, poemas visuais, mas há uma expressiva maioria de poemas aos moldes do nosso Romantismo, o que não é demérito, mas deveria ser dado importante a ser quantificado e considerado por quem constitui nossos programas de ensino de literatura. Segunda pergunta: o crescimento constante da participação popular acompanha a taxa de crescimento da cidade ou lhe é superior, denotando um impacto visível do concurso na vida cultural de Porto Alegre?<br /><br />Dos demais jurados, dos participantes, dos interessados no tema e dos leitores deste texto surgirão novas perguntas e hipóteses que testemunham sobre a força dessa iniciativa e sua importância. Como poeta mais ou menos reconhecido, e já preterido para uma edição anterior do mesmo concurso (com um poema hoje admirado, “as chuvas de porto alegre”), só tenho como desejar que a iniciativa dos “Poemas no Ônibus e no Trem” prossiga por muitos anos e lugares, a provar que ainda existem pessoas que corretamente acreditam na avidez da população pela poesia, pelo literário, pelo lírico.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-29611392706300522862010-10-29T04:16:00.000-07:002010-10-29T04:28:42.311-07:00Julio Cesar, o céticoJuntamente com um artista plástico e amigo, Guilherme Orosco, venho trabalhando há algum tempo no <strong>Julio Cesar</strong>, uma espécie de quadrinho que tem por proposta manter uma conversa constante com a poesia, com a filosofia e com a semiótica.<br /><br />Normalmente, o argumento nasce de uma intuição minha (alguns, de uma intuição do Guilherme) e faço um pequeno roteiro. O Gui pega o roteiro, dobra a intuição com seus insights imagéticos, propõe novos sentidos e, então, chegamos num resultado final que os dois concordem estar bom e coerente à personagem (que a esta altura já tem vida própria e independente de nós).<br /><br />Até hoje era esse o trabalho! Agora, que pensamos em organizar uma publicação, estamos voltando aos muitos quadrinhos e quebrando a cuca para lhes dar uma forma "temporariamente definitiva". Eis aqui o primeiro exemplo. Um grande abraço e muita arte a todos!<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8FnC1NSpBBqCZpzlbLDklMhFLp7CC4O7guKXDw6Lk4nX9eRBe5BCH_nKmvPKX-89x35yDfdJnfEkWTMcGMM1RJT89W9O-XEEk3vFeyEdcSt4ZqqOKRQtFm_MOmdyuLqMbLEdA2-x2tCwf/s1600/Juliio+Cesar_O+C%C3%A9tico.+V2.jpg"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 278px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8FnC1NSpBBqCZpzlbLDklMhFLp7CC4O7guKXDw6Lk4nX9eRBe5BCH_nKmvPKX-89x35yDfdJnfEkWTMcGMM1RJT89W9O-XEEk3vFeyEdcSt4ZqqOKRQtFm_MOmdyuLqMbLEdA2-x2tCwf/s400/Juliio+Cesar_O+C%C3%A9tico.+V2.jpg" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5533428288612930530" /></a>Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-90967953863605630502010-10-20T12:15:00.000-07:002010-10-20T12:23:02.579-07:00Quero um barcoNão sei se já trouxe um convidado aqui. De toda forma, para quem sempre pregou a ideia da maior democratização possível de espaços e oportunidades, estava mais do que na hora de abrir esta casa virtual para outras pessoas. O texto que segue, intitulado "Quero um barco", de Raul Rodrigues, traz reflexões bastante simples a respeito de como levar a vida e até mesmo de como levar a arte (quando estas não coincidem). Apesar da aparente simplicidade, acredito que algumas das lições presentes no texto valem a pena como objeto de reflexão e debate. Como dados biográficos, o autor é baterista e percussionista, além de cursar o terceiro ano de Música Popular na Unicamp. Comentários são sempre bem-vindos. Muita arte a todos!<br /><br /><strong>Quero um barco</strong><br /><br /><em>Raul Rodrigues</em><br /><br />Quero um barco pra viajar longe! Achar uma ilha desconhecida. Procurar, procurar... viver à procura.<br /><br />O barco pode ser pequeno, mas que seja seguro e navegue bem. Levarei flores, bichos e causos.<br /><br />Uma boa tripulação será muito bem-vinda, mas posso tocar sem ela. As plantas podem virar grandes árvores, os pássaros baterem forte as asas, o sopro do vento, culpado de muito, levar longe as copas e, junto, minha pequena embarcação. No caminho, cores de todos os sabores, timbres e cheiros vão aparecer e nomear o barco de "ilha desconhecida". Passo timoneiros, poiteiros e capitães; fico com os curiosos, humanos, loucos, procuradores eternos de suas ilhas.<br /><br />Que chato seria se a resposta de tudo estivesse nos mapas.<br /><br />Não quereria um barco, não haveria “ilha desconhecida”.<br /><br />Não haveria procura, procura, procurar... vida.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-47046250811705802462010-09-30T09:18:00.000-07:002010-10-19T04:46:49.228-07:00Como ser poetaManual da Academia Brasileira de Letras<br />(seção 42: Como ser poeta)<br /><br />1- Leia, leia muito. Preferencialmente os bons livros, mas não exclusivamente. Embora os clássicos sejam clássicos porque assim o chamamos - verbo no presente e no passado -, não é à toa que muitos o fizeram clássicos, acredite. Com o tempo, poucos livros tendem a ocupar essa posição privilegiada de obras-primas, tanto para você, quanto para todos os outros. Ou melhor, principalmente para os outros;<br />1.1 - Releia os clássicos. É preciso saber ler o mesmo livro duas vezes. Os bons livros não costumam ser absolutamente acessíveis a uma única leitura.<br />1.2 - Leia livros de autores novos. Não se ancore nos clássicos. Apesar da natural falta de qualidade da maioria, não desista. O ser humano é surpreendentemente criativo.<br /><br />2 - Olhe para as coisas. Se elas significarem algo para você, escreva. Como se verá no item 3, isso não significa que será reconhecido como poeta, mas já é um bom e indispensável começo. Caso as coisas não signifiquem nada para você, não escreva. Seja leitor, uma condição privilegiada no mundo das letras.<br />2.1 - Não olhe para os livros, senão como coisas. Se um poeta escreve segundo antigos poetas, o melhor que pode vir a ser é seu poeta modelo. Escrever sob a opressão caridosa de outro estilo é olhar com os olhos do opressor.<br />2.2 - Reolhe as coisas. É preciso saber olhar para a mesma coisa duas vezes. As boas coisas não costumam ser absolutamente acessíveis a uma única visada.<br />2.3 - Olhe para as coisas novas. Não se ancore nas antigas coisas. Apesar da natural falta de qualidade da maioria, não desista. O ser humano é surpreendentemente criativo.<br /><br />3 - Busque de alguma forma tornar público seu trabalho. Milhões de poetas ao longo de nossa história morreram inéditos. Reparem na cruel dinâmica da balança: quanto mais difícil for tornar público os poemas, maiores as chances dos poetas serem reconhecidos por sua arte; quanto mais fácil tornar público o trabalho dos poeta, mais eles tendem a ficar perdidos entre numerosos textos editados ou ofuscado por poetas menos talentosos, mas de melhor marketing (renome ou garbo, diriam antigamente). <br />3.1 - Divulgar seu trabalho é colocá-lo à prova de bons leitores, alguns deles, quase poetas que se dedicaram exclusiva e sabiamente à arte de ler. <br /><br />4 - Aguarde a história.<br />4.1 - Não é preciso morrer, mas é recomendável.<br /><br />Adendo: esta seção pode ser irônica. M.A.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-45110146692905606472010-09-03T07:30:00.000-07:002010-10-13T12:47:40.401-07:00casamentoUma querida amiga vai casar e me dispus a escrever o poema que estará sobre as mesas na festa. Ocasião perfeita para versos à moda antiga. Viva os noivos!<br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKp9MupzMqSZuTN40hRKUKOtKldyBMEkVaGg0GcFgSxLAqVm50EWH40t8ToIpKjUWFNLANOK_o8jq7VwrLOXRkVSBwyRxipuOuJgUNABAZUj3DhyVEaPtPippn1BuHu4qCDUl1RqFjQT-j/s1600/casamento.png"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 304px; height: 362px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKp9MupzMqSZuTN40hRKUKOtKldyBMEkVaGg0GcFgSxLAqVm50EWH40t8ToIpKjUWFNLANOK_o8jq7VwrLOXRkVSBwyRxipuOuJgUNABAZUj3DhyVEaPtPippn1BuHu4qCDUl1RqFjQT-j/s400/casamento.png" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5527619564817968626" /></a>Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-46400372406934293332010-08-21T05:09:00.000-07:002010-08-21T05:31:28.388-07:00L'image justeA quantidade de postagens neste blog nos últimos cinco meses mostra o quanto estou correndo de um lado para o outro. De certo não é o termo exato, porque pressupõe confusão (existente, claro, mas que não deve ser central).<br /><br />A imagem, ainda não boa, que me ocorre é a do vaqueiro tentando conduzir o rebanho pelo cerrado seco (eu ia usar o pastor de ovelhas, metodista, europeu e chique, mas em homenagem a Mário de Andrade...). Não boa porque minhas vacas (o mestrado, o livro recém lançado, o cd ser gravado nas próximas semanas, a Brique, meu livro novo, um começo de romance, o Trombone etc.) jamais se movimentam sozinhas e conseguem ter ainda menos iniciativa do que seus originais em couro e carne. Talvez as vacas da <em>cow parade</em>, mas que são pops e coloridas demais para a metáfora.<br /><br />Tá aí, sou um artesão no começo do século passado, no começo da tarde com uma pilha de trabalhos a serem feitos, com seus diferentes prazos e especificidades. Um o cliente vem buscar daqui a meia hora. Outro o cliente vem ver a cada quinze minutos, mas sempre adia a retirada. Há ainda o que contratou os meus serviços por mensageiro e que, embora seja muito recomendado, assusta-me com a possibilidade de não vir. No canto há aquele outro de que mais gosto, mas que pelo tanto de afazeres, dificilmente poderei trabalhar nele até o fim do expediente. (Isso sem contar que tudo o que sou está com os dias contados, mas, para ser verossímil, meu artesão não pensa muito nisso).<br /><br />É, quando o real está cheio, não há uma imagem justa.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-65407933067187468552010-08-06T16:58:00.000-07:002010-08-06T17:09:44.965-07:00Reflexões de rascunhoChego de viagem e, na velocidade dos olhos, encontro a cidade de Porto Alegre. Fria nesta época do ano, de todos os anos, alterna dia a dia uma chuva gelada e punitiva e baixíssimas temperaturas.<br /><br />Nem sei se posso dizer isso, mas talvez a cidade seja a prova de que poesia e "tristeza" (coloco aspas por não saber o que é) não sejam práticas indissociáveis.<br /><br />Sob a chuva ou sob o frio, os sorrisos ficam escassos na cidade destes dias. No entanto, salvo engano, jamais morou nesta cidade um poeta maior. É provável que nem tenha pernoitado em algum de seus antigos hoteis. Tampouco no Brasil quente, litorâneo e corporal de latitudes mais baixas, já eximidos (os poetas menores, todos os poetas brasileiros) pelas temperaturas amenas e pelos sorrisos rápidos. (Talvez o único poeta maior brasileiro seja pernambucano. Terra do sol e do frevo).<br /><br />Ao poeta é preciso consciência. Extrema, incansável, insone, universal. Os sentimentos que resultam disso são irrelevantes. Às vezes, as palavras que resultam disso são relevantes.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-86753658178825655132010-07-19T06:59:00.000-07:002010-07-19T07:04:21.950-07:00O arco e a liraPasso rapidamente (e espero não desperdiçar teu tempo de visita) para um frase rápida de uma entrevista de Octavio Paz a Betty Milan (e que saiu na "Agulha Hispânica"):<br /><br />Abro aspas.<br /><br />Os psicólogos dizem de modo mais ou menos pedante o que os poetas dizem de forma simples.<br /><br />Fecho aspas. (O crítico opunha o conceito lacaniano de "hainamoration" aos seguintes versos de Catulo: "Amo e odeio ao mesmo tempo. / Por quê?/ Não sei, / Mas eu disso padeço").<br /><br />Pra que dizer mais num meio de férias?Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-21657185739168766362010-06-16T06:30:00.000-07:002010-06-16T06:44:50.096-07:00Três apitos sobre a poesia contemporâneaDe volta a Porto Alegre, lá estava eu lendo um teórico francês sobre poesia contemporânea e duas análises me chamaram a atenção, ao que acrescento outra, fruto de uma conversa minha com uma amiga nessa última viagem.<br /><br />Diz o teórico: diferentemente da máxima de Mallarmé de que a poesia está na palavra e não na ideia, hoje a poesia está <strong>presa</strong> na palavra. É como se fosse um pouco ingênuo o poeta acreditar que ainda seja possível alguma originalidade de sentido e bastar-se (quase simbolisticamente) no que a palavra pode causar com sua imagem acústica. (Espero ter saído dessa armadilha no livro que estou lançando, porque busquei sair).<br /><br /><em>Encore le penseur</em>: talvez um dos problemas atuais da poesia seja ela ser um gênero marginalizado dentro da cultura já não hegemônica do livro. Lá está o leitor (onde? onde?) que resolveu sair de casa para comprar um livro ou pedir para algum site mandar um livro pra sua casa. No fim da fila de auto-ajuda, biografias, baixo romance, crônica, alto romance, quadrinhos, livros de moda, aforismos (opa!), está sua escolha por um livro de poesia. Será?<br /><br />Agora sou eu: a poesia está na contra-corrente do ritmo e da direção da leitura contemporânea. Pelo grande número de símbolos diários de nossa cultura visual, somos treinados desde cedo a ler com rapidez, teleológica e pragmaticamente. Daí vem o poeta e diz: passei um tempo a escolher a palavra exata para este verso, eu preciso que você acredite em mim e que acredite que esta escolha fará alguma diferença na tua vida simbólica. Na pressa do leitor se confudem o poeta brilhante e o poeta medíocre, eles se igualam na linha média da sacada, da boa ideia pra um poema, do puro <em>wit</em> como alimento lírico.<br /><br />Terão algum sentido estas reflexões?Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-77354630488140098452010-05-26T14:38:00.000-07:002010-05-26T14:44:11.815-07:00o começo de uma narrativaComo está dito num banner eletrônico aqui no blog, estou participando de um laboratório de escritores da editora 8 Inverso. Nesta semana, escolheram o começo da minha narrativa para figurar em seu <a href="http://8inverso.blogspot.com/">site</a> na última segunda, 24 de maio, o que me deixa mais à vontade para trazê-la para os leitores daqui. Um grande abraço a todos e espero não decepcionar tanto com a evidência do meu esforço em fazer prosa.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">Só haveria futuro</span><br /><br />Os números nunca se acenderam tão lentamente. Até a cobertura ainda seriam onze lâmpadas pequenas e vermelhas sob quatorze vãos: um, dois, três... Ao menos estava sozinha. O elevador é um dos poucos lugares no mundo onde se estar sozinho é uma vantagem, o que é especialmente significativo para Flora, incapaz de lembrar da última vez em que se imaginou simultaneamente sozinha e feliz. O que fará quando o vir flertando com aquela mulher de voz magra e comportada que interceptou na manhã corrente com o cuidado da mão no bocal? Só agora, com um tempo imenso para pensar nos impulsos que a levaram até ali, Flora reflete que talvez tivesse sido melhor deixar passar, como das outras vezes.<br /><br />Com os números crescendo em contagem regressiva, Flora retorna ao Passat branco em que via César cortar o subúrbio na juventude. Sentadas à frente de sua casa, as amigas comentavam unânimes que o motorista não valia muito, embora nenhuma tenha escapado de sua conversa fácil e de alguns amassos ao som conveniente de Cazuza. Só ela casou com ele. Mesmo após a traição flagrada nos tempos de noivado, em que toda a família se envolveu e perdeu-se a madrinha mais bonita. No quintal, aos fundos da casa dos pais, Flora acreditou catolicamente no juramento de César de que ele não aprontaria de novo. Hoje sustenta aos mais próximos que estava certa e não entende os motivos da impopularidade do marido entre os seus.<br /><br />Sete. Os filhos vieram logo para engrossar o argumento e o amor entre eles. Se poderiam servir a ela como amuletos definitivos contra a solidão, rapidamente se transformaram em mais um motivo do quanto era bom que o marido continuasse por perto. Apesar de sua intransigência natural e alguma violência, ele sempre se mostrou um pai bastante presente na vida deles. Dos médicos ao longo da infância até o trabalho precoce do caçula, César era suficientemente firme e zeloso. Não trocava fraldas, claro, nem tinha intimidades com a mais velha, coisas para a mãe; contudo, é preciso louvá-lo igualmente pelo relativo sucesso das crianças. Se Flora pode sorrir diante do espelho pelo futuro dos filhos, em duas cabeças repousam os mesmos louros.<br /><br />As lâmpadas e a caixa chegam mais perto do ápice. Surpreender uma traição é certamente mais difícil do que trair. Existe algo de irreversível nisso – coisa rara no mundo de Flora e de todos. Há, por outro lado, a recuperação do orgulho, mas ela nunca foi uma mulher especialmente orgulhosa: filha do meio, com um corpo de curvas acentuadas, bonita, sim, mas de uma beleza caseira, não de tirar do sério os olhos masculinos, mas de convidá-los para uma vida regrada, sem sobressaltos. Seu azar foi a existência de César, que parece não ver incompatibilidade entre os amores da rua e os de casa. Será que ele a ama assim como ama aos filhos? Que diabo a levara a sair correndo, do jeito que estava, atrás de uma discussão?<br /><br />As portas se abrem e os olhos de Flora rapidamente encontram a figura do marido em meio a mesas redondas, toalhas de linho e ternos. De frente para ele, uma senhora, quinze ou vinte anos mais velha, escuta entediada a fala eloqüente de César. Ele não a traía! Ele não a traía! Contentíssima em se desfazer de uma série de atos que cogitava ainda há pouco, nem nota que os olhares dos outros começam a se acercar dela. Menos por sua beleza natural e seus cabelos cacheados, mais pela camiseta branca suja de molho, a calça jeans e os chinelos, o contraste visível que a deixava no patamar mais baixo do grande salão. Algo como se uma cozinheira, servente talvez, tivesse errado a porta de entrada e fosse um incômodo vivo a tantos negócios.<br /><br />A senhora que janta com César, farta da sobremesa, flutua os olhos até encontrar a figura de Flora. Com a sinceridade comum a seus bens e idade, deixa que saia um riso fino, baixo, inocente, dos mesmos que tem até hoje ao rever O grande ditador. Surpreendido no meio da verbalização de um gráfico, seu futuro parceiro comercial se vira, deparando-se com a mulher alguns passos à frente do elevador fechado. Os olhares de muitos, o rosto pálido, o sobrepeso, o sorriso e o indicador dos andares (confundido com uma auréola) davam-lhe um ar de madona. Qual?<br /><br />Pedindo licença à senhora, César se levanta e, sem dizer palavra, caminha para sua esposa enquanto retira o blazer escuro dos ombros. Num misto de carinho e vergonha, deposita-o sobre as costas da mulher e aperta o botão do elevador. De toda forma, precisa levá-la dali. Acarinhada pelas roupas do marido, Flora nem percebe o quanto as portas demoram a se abrir, os momentos novamente longos na descida, as luzes se acendendo em ordem contrária. Dali em diante, só haveria futuro. O passado é triste e seu excesso é que a fez desconfiar do marido. Um tanto a contragosto, seus dedos se enlaçam e há o diálogo silencioso entre cabelos e peito. Salvo suas diferenças evidentes, um hipotético observador no saguão diria que saiu do elevador um casal extremamente feliz.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-52571323448668314222010-05-21T16:19:00.000-07:002010-05-21T16:40:31.901-07:00Cada poema tem seu cantoE não é que recebo a graciosa mensagem de Dinorah dizendo que achou meu poema "H" de "Poemas lançados fora" e queria postá-lo em seu <a href="http://dinorahcomaganofim.blogspot.com/">blog</a>. Mas claro! Não é todo dia que o poema acha um canto justo que lhe guarde. O poema sempre foi teu, Dinorah, só esteve emprestado comigo. Se primeiro o vimos num livro que eu assinava, é que nossos olhos não costumam ver os poemas "em estado de dicionário", quando eles pairam sob a materialidade das coisas. Eu e ele, o poema, agradecemos muito que veio levá-lo para casa.<br /><br /><span style="font-weight:bold;">H</span><br /><br />No princípio todas as palavras vinham com agá<br />antes.<br />Certo dia, por não se saberem úteis,<br />resolveram deixar a empresa.<br /><br />Como sempre há fura-greves<br />e dedos-duros (embora estes não se encaixem na contenda,<br />o que em nada impede posarem de figurantes),<br />ficou o agá de hoje, de há, de halo,<br />de hipogrifo.<br /><br />Dinorah, faceira que só ela,<br />hora tem, ora não tem<br />o pensado,<br />mas não dito.<br /><br />Se bem que, com Dinorah,<br />o agá não é de princípio.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-31311508293590449432010-05-14T04:23:00.000-07:002010-05-14T05:05:55.355-07:00eco poéticoAbri o blog hoje sem muito a dizer. Sono mais mestrado menos tempo é igual a pouca literatura, poderia ser uma síntese equivocada. Vou visitar, então, os blogs que gosto de ler e achei um poema bem interessante no blog do poeta Heyk Pimenta (<a href="http://heykpimenta.blogspot.com/">http://heykpimenta.blogspot.com/</a>) e resolvi tentar um eco aqui nestas paragens. Corram lá primeiro, se puderem, que é onde está o sentido mais espesso do poético, para depois conferirem meu eco-brincadeira. Muita arte a todos e obrigado ao poeta Pimenta!<br />p.s.: desculpem-me a obrigatoriedade de precisar clicar na imagem, mas é que o poema era longa e tem variações importantes nas margens dos versos.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO3O0DtaDyd_TytJnf2nJ0b3ao5nL9JlIGfnz3vl7f3c78JIOlEhAx83eXIDIOLLo_D1372DM3n15JQuI0mcBM2f_VgZ8abil5F8dFMJcNyspa6v38VikLgu926jJXwAFDMFRDz1ssb8br/s1600/dia+crian%C3%A7a.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 235px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiO3O0DtaDyd_TytJnf2nJ0b3ao5nL9JlIGfnz3vl7f3c78JIOlEhAx83eXIDIOLLo_D1372DM3n15JQuI0mcBM2f_VgZ8abil5F8dFMJcNyspa6v38VikLgu926jJXwAFDMFRDz1ssb8br/s400/dia+crian%C3%A7a.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5471094994233047346" /></a>Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-49761951847877286442010-05-10T09:11:00.000-07:002010-05-14T04:19:12.604-07:00O sonho límpido da línguaParticipei há duas semanas de um programa de rádio (Dois Pontos) sobre meu novo livro, <span style="font-style:italic;">zero um</span>, que será lançado no próximo mês, com lançamentos aqui em Porto Alegre e em Campinas (mas que já pode ser comprado pelo site da 7 Letras ou na Palavraria, em Porto Alegre). Das muitas perguntas de caráter mais ou menos amplo que respondi, uma ficou ecoando na minha cabeça e só agora eu consigo dar a resposta que queria ter dado no ar.<br /><br />Assim me perguntou o professor Paulo Seben (aspas arrazoadas), notando que meus poemas variam muito sua forma gráfica no espaço da folha: "quais os critérios que você usa para alinhá-los no centro ou à esquerda?"<br /><br />Na hora, eu respondi que se tratava de um recurso a mais, que eu tinha aprendido de um poeta jardineiro que eu conheci há tempos, e que depois tinha lido e estudado os concretistas, o que aumentou minha certeza na validade do recurso e na importância de entender o poema TAMBÉM como imagem.<br /><br />Pois bem, a resposta que gostaria de ter dado é que a defesa de que o poema em si (por seu corpo) não pode constituir uma forma a ser significada vem da crença de que a poesia precisa ser veiculada pela linguagem material com o mínimo de perda possível, o que é claramente ingênuo. A linguagem, todos sabem, está longe de ser transparente e, com generosidade, pode ser considerada, no máximo, opaca.<br /><br />Manter incólume a forma do poema parece dizer que o verdadeiro sentido segue detrás da linguagem e é ele que o leitor deve inferir em sua leitura. Errado! (Não gosto de ser tão dogmático, me desculpem) A linguagem, inclusive em seus caracteres físicos, constitui boa parte do sentido de um poema, aliás, de todos os sentidos oriundos da linguagem, na verdade. Se eu digo "mato", o leitor pensará na vegetação, no presente do verbo matar, nas formas figuradas como "matar o tempo", "matar aula" etc., mas também pensará nessa nasal interrompida pela oclusiva surda, como se dentro da palavra crescesse uma planta (olha o "t" aí de novo), como um arbusto no meio do mato. Pensará talvez que é uma palavra que demora a nascer, que passa um infinito ainda no meio dos lábios até sair e logo acaba. Creio que, por ser arbitrário, há muito de não arbitrário na escolha que as culturas deram para seus sígnos.<br /><br />Não? Sim? Na dúvida, por achar que sou poeta e uso a língua como minha matéria de arte, preciso lidar com esse sentido oculto, que corre no nosso inconsciente linguístico para estacionar nalgum canto do verbo, para se atirar subitamente no abismo do nada. Nada? De alguma forma acho bonito esse jeito de matar o nada.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNPAhn39_aW4IWZKLXXvPWfaif3YvQTV15wLPzmtT-1-CS_jG98P3ubqUMnSWIPVUESncCJrR-73RgrZqH3y3FsGlOcpaCJPOYfJava75sizY3YYZAk6N8aj15E0KyLzuyPJSFlEpNBFyZ/s1600/trava+l%C3%ADngua.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 210px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNPAhn39_aW4IWZKLXXvPWfaif3YvQTV15wLPzmtT-1-CS_jG98P3ubqUMnSWIPVUESncCJrR-73RgrZqH3y3FsGlOcpaCJPOYfJava75sizY3YYZAk6N8aj15E0KyLzuyPJSFlEpNBFyZ/s400/trava+l%C3%ADngua.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5469681031965777090" /></a>Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-84789455832357423792010-04-30T14:48:00.000-07:002010-04-30T15:04:23.345-07:00"aprender a viver"Acho "viver" muito vasto e "aprender" muito polêmico para que a expressão "aprender a viver" tenha algum sentido. Ficam só mesmo o sentido retórico, para bares de companhia ruim, e o sentido financeiro, para os autores das centenas de livro sobre o tema. Por ambos não me interesso.<br /><br />Digo, entretanto, que talvez isso de colecionar segundos tenha feito alguma coisa ao que tendo a chamar de eu (quando me falo). Se estou aprendendo, duvido, mudo por condição. Se viver é, assim, nessas mudanças, talvez esteja vivendo. Viver é inevitável!<br /><br />Um dia pretendo me ver nos muitos tempos a que chamei de presente, pelo parapeito da memória, e talvez reconheça que mudei. Tomara! Talvez reconheça que não, que ainda sou a parte de dentro do útero recebendo a vingança de outros já nascidos. Que desde lá recebo o carinho dos pais e das vítimas de outros pais para que eu me esqueça do trauma e pense estar aprendendo. Que um dia me veja crescido, e reporduza.<br /><br />Viver? Terei vivido. Mas sem aprender nada.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-1528809592505591852010-04-26T18:16:00.000-07:002010-04-26T18:19:56.136-07:00nova casaSalve, meus caros!<br /><br />Escrevo para informar de uma nova casa onde vou escrever a cada dia 27, portanto, amanhã começo. <a href="http://manazinabre.blogspot.com/">Maná Zinabre</a>! Casa de uma galera sempre muito antenada, tanto com a necessidade de experimentar esteticamente o gênero a que se aplicam, quanto com importância social do artista em seu entorno. É uma honra poder dividir espaço com tanta alma! Vale aquela conferida, eu acho. Grande abraço!<br /><br />p.s.: meu livro finalmente chegou! Gostei muito do resultado! Possíveis datas de lançamento: Campinas (08/06) e Porto Alegre (25/06). Todos sempre bem-vindos, sempre!Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-9222479266262636502010-04-19T17:10:00.000-07:002010-04-19T17:19:34.185-07:00Entre prazeres e doresAinda no aguardo do livro, minha vida tem se atolado de muitos pequenos prazeres. Vê-los assim reunidos pelas horas de que disponho, até parece que viram aquilo que não propunham. As forças mais agradáveis, o amor inofensivo, sair pra viver à noite, a leitura de um bom livro, tudo são quinas e cacos. Poderia ser pior, prazeres de que não vivo. Concordo (a contragosto). Mas ontem fiquei zonzo pela primeira vez em muito por conta de tanto trabalho que talvez pagarão as contas, talvez irão pelo ralo. Com o perdão da imagem, quando as cidades se forem, encontrarão nos esgotos prazeres de muita gente e, talvez, algumas dores.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-72004784741242143972010-04-15T17:10:00.000-07:002010-04-15T17:14:18.980-07:00Chegando...<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFBejHwLvXoBw8shQQR9YGLuxTL5sk6uKe7bKf8anRZYvKTLxqb60R6urZDdBNjopsT5MZLEOa5nbDxcZPGBe2ZaonJR-7TopOL9XJZPzgL7GqPBo3lxkSjP-KX_4qkrxOm_zjxg9XE__s/s1600/not%C3%ADcias+da+espanha.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 287px; height: 400px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgFBejHwLvXoBw8shQQR9YGLuxTL5sk6uKe7bKf8anRZYvKTLxqb60R6urZDdBNjopsT5MZLEOa5nbDxcZPGBe2ZaonJR-7TopOL9XJZPzgL7GqPBo3lxkSjP-KX_4qkrxOm_zjxg9XE__s/s400/not%C3%ADcias+da+espanha.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5460521946837272722" /></a><br /><br />Hoje a editora em falou que meu novo livro acaba de partir do Rio de Janeiro e no começo da semana que vem o terei em mãos. Não sei se é motivo para festa - há uma dor estranha na alegria de se publicar um livro -, mas, pelo senso comum, comemoro postando mais um dos poemas que o compõem. Este, aliás, é bastante antigo, comecei-o há uns três anos. Palavra aqui, palavra ali, ele foi mudando até chegar a esta versão difinitiva (por enquanto).Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-92081800005599106132010-04-13T18:24:00.000-07:002010-04-13T18:45:32.547-07:00Da tristeza poéticaAchei hoje uma resposta que eu procurava há muito tempo! Lá estava eu lendo a <span style="font-style:italic;">Teoria do Romance</span> e (aspas fajutas): "a epopeia é uma época em que a expectativa da ação e a ação coincidem, sem muito espaço para a filosofia, que versaria sobre a diferença entre a ação e o desejo". Cá na minha cabeça, do mesmo bazar das aspas, vale o mesmo pra poesia. Poeta feliz não escreve, vai ao shopping. Poeta feliz não reflete, puxa o brinde. E não estou dizendo ficar em casa, tomando alguma coisa, ouvindo coisa pior. Isso é a valorização da própria tristeza, o que consegue ser ainda mais deprimente da perspectiva dos outros (embora pro próprio "poeta" soe um tanto vazio). Digo sobre ter sempre sujeira nos óculos, De olhar para a tristeza pela face neutra ou triste. Da se compadecer dos outros, de sentir. Nessa tristeza se vive e dela se fazem poetas.<br /><br />p.s.1: hoje conheci um anjo!<br /><br />p.s.2: tem novidades e livros de presente lá no <a href="http://www.trombonearte.wordpress.com">Trombone</a>, apareçam!Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-22906205930509711282010-04-09T15:35:00.000-07:002010-04-09T15:42:48.762-07:00AcademiaNossos universos, aqui costumeiros, não cósmicos, são povoados por milhares de coisas simples todos os dias. Meu auto-engano de ser artista sempre relegou o que não é arte a um segundo plano. Os anos, contudo, vêm trazendo de volta parte desses prazeres que eu antes tratava com despeito. Um deles certamente é a discussão acadêmica. Almocei com três mestres hoje e depois me reuni com mestrandos para discussões sobre Auerbach e Moretti. Mais do que nas leituras e interpretações, o verdadeiro prazer do exercício intelectual reside no desvendar do raciocício no momento da discussão. O insight. A mudança de rumo. As muitas hipóteses propostas e descartadas. Às vezes sobra um fiapo, que depois será seguido, com bibliografia e esforço, para torná-lo temporariamente evidente aos outros. Quem me dera todo meio acadêmico pelos quais já passei na vida fossem assim! Quem me dera meu atual meio acadêmico (aqui e em congressos em outros lugares) fosse assim todo o tempo!Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-58987124363477452362010-04-08T04:01:00.001-07:002010-04-08T04:16:36.156-07:00CuidadoVenho falar de força e de cuidado. <br /><br />Sem querer voltar à égide da temperança, está cada vez mais claro para mim que exagerar na força, sobretudo os fortes, é extremamente perigoso. Acompanho alguns "formadores de opinião" no Twitter e é impressionante como as pessoas conseguem ser categóricas com facilidade. Não muito desastroso em opiniões mais óbvias, mas devastador no que tange a casos controversos. Há certa loucura em todas as cruzadas.<br /><br />Vou falar por versos, que talvez fale melhor.<br /><br /><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyFJoBD86HVio1Db9bcGMSIs2DmhynB0_UUwUwQ8pnEDaLFRLN-1tfZ9hBXKMcNDV8np_9TTZWNrGxm-0QBYpvPGeACL9NhlhSvQ5TeQa0gJQnXXRqEGYzy4NMP0X3JcOU4E1SIbOGuwl1/s1600/cuidado.bmp"><img style="display:block; margin:0px auto 10px; text-align:center;cursor:pointer; cursor:hand;width: 400px; height: 362px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyFJoBD86HVio1Db9bcGMSIs2DmhynB0_UUwUwQ8pnEDaLFRLN-1tfZ9hBXKMcNDV8np_9TTZWNrGxm-0QBYpvPGeACL9NhlhSvQ5TeQa0gJQnXXRqEGYzy4NMP0X3JcOU4E1SIbOGuwl1/s400/cuidado.bmp" border="0" alt=""id="BLOGGER_PHOTO_ID_5457723738858719362" /></a><br />(poema do livro "zero um" que sai no fim deste mês pela 7 Letras)Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-89652144722580366072010-03-27T21:41:00.000-07:002010-03-27T22:03:52.799-07:00Herbert de pertoTive um bom final de semana de filmes. Aproveitei para ver <span style="font-style:italic;">Guerra ao Terror</span>, que é bom filme, mas não melhor do que <span style="font-style:italic;">Bastardos Inglórios</span>, para lhe tomar os prêmios. Vi <span style="font-style:italic;">Julia & Julie</span> e realmente há pouco o que dizer de Meryl Streep. Mesmo em papéis extraídos de personagens exageradas na vida real, como a cozinheira, ela consegue elevar o patamar da arte dramática (há uma cena maravilhosa quando ela descobre que a irmã está grávida, vale conferir). Também vi <span style="font-style:italic;">Herbert de perto</span> e é desse que consturo nosso papo neste espaço.<br /><br />Não, não saí do filme achando que Herbert canta bem ou que é um dos melhores compositores da canção nacional. Salvo "Alagados", "Uma brasileira" e uma ou outra canção de amor, realmente o admiro mais como guitarrista do que como compositor ou intérprete. Me impressionou a força do homem. Claro que muitos sofrem acidentes ou perdem pessoas queridas e precisam enfrentar a vida de novo, com renovadas motivações. O que me impressiona é alguém que não quebre após descobrir que o tudo que sempre teve é quase efêmero se comparado à capacidade do acaso em despedaçar as coisas. "A vida é um sopro", como disse Niemeyer em outro documentário famoso.<br /><br />Da infância de lugar em lugar com a família, das arruaças em Brasília (fora do alcance policial, pelo pai militar), ao sucesso dos Paralamas (de passagem, absolutamente justo porque Herbert é talentoso!), ele mesmo diz no filme que conseguiu tudo o que sempre quis na vida. Uma cena tocante é o Herbert depois do acidente olhando para o Herbert dizendo essa frase e comentando: "é, o mané aí não sabe do que está falando".<br /><br />Ver o filme do Herbert me deu pressa. Pressa porque não sei quanto tempo ainda fico por aqui (um assalto na semana passada talvez tenha ajudado nessa sensação). Se existe algum propósito em eu escrever desde sempre, compor como um maluco (os músicos meus amigos fazem apostas, piadas, desafios sobre meu lance com composição), buscar a precisão da palavra, viver para a arte, eu quero cumprir o propósito enquanto ainda tenho tempo. Se não há propósito algum, preciso aproveitar ao máximo minhas condições (históricas, ideiológicas, discursivas) pra produzir mais e na melhor qualidade que conseguir, porque pode ser que isso mude a vida de alguém, ou um momento da vida de alguém, que já é um universo.<br /><br />Já vi ou fique sabendo de pessoas que dançaram com minhas músicas, mudaram o que pensavam diante dos meus poemas, se divertiram com meus contos, me abraçaram e se emocionaram quando conversávamos... não há como medir isso, nem o valor nem o alcance. Embora nos outros instantes eu tenha dúvidas sobre tudo, nestes me sinto totalmente justificado, e quero fazer mais e mais, e ao máximo.Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-476969363087836970.post-15442352847426854572010-03-23T18:12:00.000-07:002010-03-23T18:39:00.499-07:00NotíciasHoje venho só deixar uma notícia. A partir de amanhã, provavelmente, estarei participando da oficina proposta pela editora 8 Inverso, que buscou reunir prosadores de diferentes estilos e idades no intuito de aprimorar-lhes a escrita e, quem sabe, fechar contrato com alguns deles ao fim da série de exercícios.<br /><br />Me alegrei porque é um dos primeiros reconhecimentos que tive como prosador. Um escritor, talvez Cláudio Willer, há muitos anos se interessou. Depois outro autor, Fischer, elogiou a desenvoltura em sua oficina de contos. Agora isso.<br /><br />Embora me esforce muito (diferente do poema), gosto bastante de escrever contos ou o que quer que sejam. Espero aprender bastante na oficina e parabenizo muito os demais selecionados (e todos que participaram).<br /><br />Grande abraço e arte!Guto Leitehttp://www.blogger.com/profile/05805644155900051617noreply@blogger.com0