Feb 28, 2007

A contragosto

Nem ia postar no dia de hoje, mas duas pessoas comentaram via msn a respeito de postangens anteriores, então resolvi escrever mais alguns desvarios que me tem assaltado recentemente, algo como enxagüe. Dois, pra ser exato. O primeiro diz respeito ao senhor Bandeira, de quem certa vez emprestei um verso, expondo a citação noutra estrofe, pura traquinagem em "A casa dos desprovidos". Bem, tenho me abismado graciosamente com a forma falsamente ingênua com que este poeta maravilhoso traça suas linhas. Continuo de posse da opinião que não temos grandes poetas brasileiros, mas realmente há certa qualidade intrínseca nos versos de Bandeira que cravam na alma um desconfio e demonstram um grande apuro lírico e, de certa forma, uma antecipação do desprendimento beatnick. A segunda reflexão é a tendência mimética para a qual parece retornar parte da nossa arte. Talvez a nossa arte mais imediatista, portanto, menor. Concordo com o senhor Coelho na coluna de hoje da Folha ao se referir à tendência do Oscar em premiar atores que representem personagens reais (históricos? rs...), mas amplio esta discussão a todo universo artístico que tenho acompanhado. Talvez a proliferação de imagens absurdas cotidianamente tenha nos distanciado de tal forma do real que esteja ocasionando a necessidade nas pessoas de reaver o que está perdido através da obra da arte. Afora o fato de que o mimético, salvo, provavelmente, o clássico, tende a trazer resultados mais urgentes. Não sei se me fiz claro, nem se o pretendia. Vai como vier!

Feb 26, 2007

Os objetos do quarto escuro

Os olhos dos amantes percorrem os objetos do quarto escuro. Logo se deparam com aqueles que alguma claridade trouxe do nada. Por serem maiores ou providencialmente dispostos, estes objetos se definem como amparos ou obstáculos, e ditam, por conseqüência, como se portarão os olhos dos amantes para o amor. Por mais que estes objetos amedrontem a percepção despreparada, mais cuidado devem ter, os olhos dos amantes, com as saliências ocasionais da penumbra. Os volumes mesquinhos, os atos ordinários, o oculto pontual, neles reside o grande perigo para o amor. É comicamente patético, se não fosse triste de alma, ver os corpos dos amantes, no equilíbrio volumétrico, se desviarem dos grandes objetos, para se verem feridos no ridículo, mortalmente feridos no ridículo. Muitos desperdiçam a vida na tentativa de previamente esclarecer o quarto. Outros tantos vão de maneira tão lenta que o sucesso quase não transborda a opacidade da cautela. De minha parte, fecho a porta sutil e infantilmente, talvez por perder-me na chave.

Entre pessoas e versos

Algumas almas são pedaços de ânimo, como em latim. Claro que de maneira nenhuma afastam a sensação excessivamente blasé que acompanha uma vida catársica. Por outro lado, encontrá-las em meio ao caos dos falsos sentidos das coisas, vale como verso bem achado, como sorriso expontâneo. Poucas pessoas encontrei que fossem poemas. Ainda menos. Encontrá-las, por conseqüência, talvez me valha os olhos, ouvidos, pele, espírito... qualquer um dos instrumentos de sensação. Pode ser que as buscar nestes sentidos sobrecarreguem-nos de tal maneira que nunca mais eu os possa utilizá-los a contento. Agradecido por alguns versos no final de semana. Saudoso do poema!

p.s.: agradecido pelo leitores "anônimos" que freqüentam este blog.

Feb 22, 2007

A verdade

Certas promessas foram feitas para serem quebradas. Qual o custo de permanecer infeliz diante de uma promessa mal feita? Hoje o dia custou a passar, de maneira que fiz tudo o que deveria para que desse de ombros e seguisse seu destino de romper-se ao começo da noite. Muita, muita vontade, momentânea, eu sei, de não ter mais promessas, erros, dias, de adiar tudo indefinidamente. Carrego o peso de alguns milhares de poemas, centenas de músicas, dezenas de textos, alguns filmes, poucas peças de teatro, um ou dois romances... Carrego o peso de uma dezena de amores falsos e um amor verdadeiro. Como não obtive êxito em nenhuma destas coisas, não acho que isto seja peso que se carregue. Muita, muita vontade mesmo de que não haja arte, rendez vous, olhares... que tudo se resuma à verdade inegavelmente explícita de um cadáver.

Habitante dos limiares

Sem motivos para abrir os olhos, sem motivos para fechá-los. Sem motivos para saltos de alegria, ou para recolher-me acuado. Sem impulsos de mudança ou certezas de permanência. Sem felicitar-me ao nascimento ou entristecer-me da morte. Sem razões para pensar longe, como os navegantes, ou bastar-me em poucos palmos, como os coveiros. Sem cheirar a terra natal ou arremessá-la. Sem beber a água ou cuspi-la. Sem tragar o ar pesado das metrópoles ou regurgitar a ânsia em seus bueiros. Ando como Caeiro, aprendendo que a vida passa e ninguém se encontra de mãos enlaçadas com ninguém, infelizmente... A vida, ou melhor, o ano passado, hum..., os últimos meses, um ato específico, uma viagem, uma saudade, um amor, uma mulher... sendo bastante exato, me retirou os primeiros motivos. Deus me retira os segundos. Mantenho por ambos um amor imensurável e sem a mínima chance de terminar nos próximos séculos. Aprendo, portanto, a viver com isso, com a lembrança assaltada periodicamente por suas presenças, imagens, proibições delirantes. Deus certamente me fará melhor do que ela, por isso o amo mais, apesar dEste freqüentar menos minhas angústias. Deus certamente precisa menos de mim do que ela, por isso quero esta mulher mais por perto. Também como Caeiro, ando sem motivos explícitos que me deixem afastado dos extremos. Sou habitante prolixo dos limiares.

Feb 21, 2007

O momento antes

Esta semana traz seu fim junto a uma grande resposta. Que devo produzir, produzir, produzir, algo como um garoto de programa do sentimento alheio, escravo do lírico, sarjeta do verso, não tenho dúvida nenhuma. Se deixado, irei fazê-lo por aqui mesmo, a fim de levar outros de meus projetos adiante. Se impedido, buscarei um lugar onde o dinheiro que tenha guardado dure por mais tempo possível, provavelmente o sítio de meu avô, em Minas. Em retribuição, deixo lancinante algumas das almas mais preciosas que qulaquer ser deste planeta pode ter contato. Nos devaneios deste feriado, conclui que tenho, acima de tudo sorte. Em retribuição, impesso que minha sensibilidade (exageradamente explícita para alguem que deseja sobreviver de forma razoavel à modernidade) resulte no maior ceticismo possível quanto às pessoas, uma descrença no humano, que me invalidade a vontade de viver e, por conseqüência, de criar. A vida talvez possa ser resumida em "deixar" e "impedir", em suas diferente facetas e medidas, em suas diferente ocasiões. Meu abraço amoroso a ambos os tipos!

Feb 13, 2007

Somente

Procura-se uma namorada

Procura-se uma namorada.

Procura-se mulher de lábios finos,
Ainda esguios na arte do beijo.
Lábios de longos contornos, quase dispersos
Ao largo do rosto, tangentes
Na importância diminuta
Da isenção dos prazeres falsos.

Procura-se mulher de olhos vivos,
Olhos de quem nunca teve um namorado.
Para quem tudo é surpresa e aguardo.
Para quem, todas as coisas, se toma, se agrada, se engana
E se larga. O mundo ao primeiro contato.

Procura-se mulher de corpo explícito,
Esparramado por todas as ciências
Mágicas. Além do obséquio.
Procura-se mulher por baixo das roupas injustas
E temporárias.

Procura-se mulher que me espante o verbo,
Não por paixão, que a hora sedimenta,
Ou por medo, que cedo vem à tona,
Mas por justiça,
No peso dos motivos.

Procura-se mulher que suma,
Quando sou grave e cortante,
De dar pena,
Mas volte assim que julgar preciso
Provar-me, desenvolta,
Do valor desmedido dos instantes.

Procura-se mulher sem amigos,
Familiares, conhecidos, animais
De estimação, esbarrões de metrô...
Ou melhor, que os tenha a todos,
Cada qual com suas crises e sua estirpe,
Mas que traga a certeza de alma
De que tudo neste mundo é por acaso,
Senão o amor máximo,
E por isso, e por ele, valem todas as causas.

Procura-se mulher de alma de vento
E coração de pedra,
Para eu me fazer Davi por dentro
Dela,
Sem, com o tempo, perder-me a obra-prima.

Procura-se mulher que não minta
Nem queira grandes conceitos da verdade,
Pois não há.
Que saiba que as grandes divergências do mundo
Terminam num abraço,
Talvez dois. Ao menos deveriam.

Procura-se mulher que entenda poesia
Por afinidade fraterna.
Que ria redondilhas por onde passa,
Versos livres do pequeno ao último gesto
E chore sonetos à noite acuada.

Procura-se mulher que ainda chore
Como eu choro,
Constrangido.

Procura-se mulher que se construa
Metade ao longe, metade estalagem,
E tenha perdido as placas de seus caminhos
Ou não as conheça por descuido avoado.

Procura-se mulher que crio, se não existe,
Para que eu possa também ser seu
Namorado que, se não existo,
Ela crie.

Procura-se mulher que já existe,
Paga-se esta vida
E a próxima.

Procura-se mulher constantemente
Desconhecida.

Procura-se esta mulher com urgência
Para que me abra os olhos
Pela manhã
Adentro
E pelo resto do dia
Eu corra sonolento
Para ter-me ardendo de vida
À volta com seus braços.

Procura-se esta mulher
Que carrega minha alma na bolsa
Como um artefato útil.

Procura-se uma namorada.

A parada da parada

Aproveitando minhas leituras semióticas, ilustro meu atual momento brevemente (e talvez porcamente) com um dos movimentos recorrentes em análises discursivas deste tipo. Todo movimento pressupõe seu próprio fim. A existência de algo, qualquer algo em qualquer tempo, já apresenta, quando se inicia, a inefabilidade de seu término. A semiótica então nos apresenta um conceito análogo que opera neste momento de "parada", que é o seguinte: toda parada, assim como qualquer movimento comum, também é composta antecipadamente de seu fim e este também se constitui invariavelmente insusbtituível. Trata-se da parada da parada, um movimento necessário para que o universo seja dinâmico e renove suas possibilidades de ato. Sinto-me às vésperas deste segundo momento. Viva Hjelmslev!

Feb 8, 2007

O grito

Posto já para amanhã, quando não vou ter tempo. Hoje tenho cansaço. Tenho as seguintes obrigações práticas: trabalho, CD (estudar e gravar as melodias de voz), livro (acertar o contrato, rever o boneco) e tirar as músicas pro ensaio de domingo. As seguintes obrigações abstratas: um samba pela metade, outro na cabeça (pronto), um poema me importunando e dois roteiros de cinema, meio que encomendados. Tudo isso quando não tenho motivo algum para coisa nenhuma. Temos que admitir que, acima de tudo, a vida é um brinquedo irônico. Depois que se batalha toda uma vida por algo, descobre-se que este algo talvez valha bem menos a pena do que se pensava. Minhas produções, todas elas, na verdade, e hoje, mais me incomodam que me dão graça. Não tenho estado em paz comigo nem com os outros, salvo com algumas poucas pessoas. E no momento em que mais penso em optar pela desistência, mais tenho consciência de meu papel nas fortuidades dos outros e da gravidade de desistir. A vida definitivamente é um brinquedo irônico e afiado. Deixo um poema que não gosto como um grito.

O beijo

teu corpo senda por duas partes
robusto relevo pela melhor fazenda
vermelha
quem olha além do encanto
pouco pode rogar de belo
que se assemelhe

vencendo o espaço se aproxima
como se obstáculos da beleza
plena
cada intervalo de tempo se alinhas-
se
a um lugar determinado

e as tuas obscenidades rubras
despertas para a contenda
justificável
repousam-se onde encontram afago
num rosto num objeto rude em outro
falo

para te conceberes inteira
já que sempre duvidaste de tua forma
ambígua
certa da completude da boca
somente em outra boca
parelha

até te afastares sozinha
no acordo superficialmente ríspido
do vago
encontro entre dois corpos faltantes
de tua natureza teu corpo senda a esmo
do acaso

o beijo e a inteireza
presentes exclusivos do ínfimo

Feb 6, 2007

Líquido

São Paulo desamanheceu debaixo d'água hoje, prenúncio de um dia lento e cansativo. Como a pressa ainda não me deu trégua, posto um poema de ontem, nu como veio ao mundo. Ficam os votos de paz e muitas dúvidas sobre as maneiras plausíveis de sanidade.

Mudei de idéia, fica uma paródia.

Soneto do amor total a Vinícius

amo-te tanto, meu amor... no entanto
meu parvo coração tem mais vontades
amo-te às tuas amigas, teus espantos
se perfilam, portanto, em realidade

amo-te um amor calmo e protestante
pois amo além do culto e da verdade
amo-te, enfim, com grande liberdade
cada perna que passa e a cada instante

amo-te como um bicho, facilmente
de um amor adultério em plenitude
porque o desejo é um vício permanente

e de te amar assim, descrente e rude
é que um dia em mil corpos diferentes
hei de te amar doente o mais que pude

Feb 5, 2007

Mal de segunda

A semana promete ser extenuantemente longa (livro, banda, música própria etc.) e começou com uma noite bem curta, de pouquíssimas horas de sono, então faço uso do direito de não postar criativamente. Há um poema em meu último livro que gosto bastante e frequentemente recebo boas críticas sobre ele. Uso-o como meu salvo-conduto pelo dia de hoje.

Só porque era conselho

Aquela luz ao pé da cama,
vestida de um silêncio escuro,
dizia que não se ama
mais assim, de um jeito largo.
“Muda, muda, minha filha,
larga essa vida insana!”
Mas grande, não se entorta mais
pra lado que a raiz não manda.
Foram passando meses,
passando, passando anos,
até que num fim de noite,
de frente para o desdém,
a luz foi ficando grande,
grande, grande, Grande,
e era um trem.

Boa semana a todos!

Feb 2, 2007

Pelos próximos dias

Nem ia postar antes da viagem, mas o comentário da Aline convida-me a alguns esclarecimentos. Simples porque ela mesma (com sua doçura característica) é prova do que pretendo. Não estou triste, nem feliz, pois não estou nada. Creio na paixão sim, mas tenho mantido por ela um sentimento cético. Também pelo amor do desconcerto, do pacto, do aborrecimento, da posse. Cito a Aline porque ela mantém uma das relações amorosas em que mais confio. Uma relação bonita, de um amor, talvez, transcendente. Eis minhas influências de um dos livros de cabeceira. Não sei se tenho visto as coisas deste modo atual pela perda recente que sofri. Nem sei se breve ou algum dia olharei de novo as coisas com o olhar exigente da esperança. Sei, e mais agora, eu sei, que tenho afazeres e vou trabalhar nisso, sem grandes sensações, espasmos, sofrimentos, aproveitando todas as oportunidades para arrancar os sorrisos que consigo. Hoje em dia, infelizmente, facílimos de serem arrancados. O Guto de seus grandes sentimentos partiu-se para restar a alma dos grandes sentimentos dos outros, que gosto cuidar. Deixo pelos próximos dias, um poema, feito nos últimos sete minutos, ainda de improviso. Um poema de resposta, carinhosa e agradecida, à Aline. Espero que goste, senhorita. Grande abraço aos que lêem, e se não morrermos, espero postar mais intimidades publicáveis.

Outros objetos

no fundo de todos os objetos
guardam uma carícia

a rocha compacta e antiqüíssima
quando certa
pode reaver os ânimos
e a nuvem mais inofensiva
para o parque
trazer os desagrados

a bala para o suicida
os travesseiros

não se deixe guardar o engano
nos objetos encontrados
mesmo que dele façamos as carícias

não se deixe objeto guardado
pelo medo da malícia
no esperado de não obter enganos

O Processo

Sigo em meu processo (talvez uma alusão kafkiana) de desprendimento de quaisquer tipo de sensações minimamente individualistas em busca de algo mais abrangente. Tenho colhido, ao menos neste princípio, um grande número de impressões extremas. Por otimismo, começo pelo lado bom: tenho virado bem mais motivo de sorrisos. Nestes últimos dias, através de gestos, palavras, argumentações, desejos e carinhos, amigos e "breves amigos" têm sorrido de maneira generosa em resposta ao meu processo. Vale contar um exemplo: ontem, quando comprei a arte de um senhor de rua e o vi comemorando, e eu também comemorei junto, o bar parecia um sorriso imenso e impressionado. Este deve ser um bom caminho, se é verdade que tenho descoberto a necessidade absurda que as pessoas nutrem de terem seus dias mudados por algo fabuloso. Mesmo pontualmente, quase um rabisco, pretendo ser um elemento deste fabuloso na vida de quantas pessoas puder. Este é o lado bom. O lado ruim é que simplesmente não tenho mais crença alguma na maioria das coisas que as pessoas esboçam como sentimentos ou coisas. A vida comum tem-me perdido importância. Obscuro? Não acredito mais no valor físico que as pessoas atribuem a tal ou qual objeto, como também não acredito mais na maioria das definições de amor e de outros sentimentos (o que estranhamente tem feito com que eu seja mais comumente alvo de inesperados amores em que não acredito, uma tentativa desesperada da mentira ter-me de volta). Alguém pode dizer que este também é um lado bom, mas antecipo-me: como se deve reagir à descoberta de que todas as coisas em que todas as pessoas normalmente depositam suas vidas são essencialmente espasmos de fantasmagoria? Ou pior, se este estado de espírito for permamente, com quem(ns) irei compartilhar minhas reflexões, afetos, olhares, senão neste blog? Ultimamente já havia conhecido, e definido, o amor, a saudade, a dor, dentre outras importâncias, talvez esta sensação do dia como cativeiro regular de alienação, de agachado ao foco da luz, de perdido de vista, seja a descoberta de minha solidão. Espero que os parcos leitores deste blog aceitem o falso fardo delicioso que lhes compete. Muita paz e o melhor final de semana possível a todos!

Feb 1, 2007

os objetos em sentido horário

um tubo de cd’s virgens sobre uma capa vazia, um monitor, um porta-passaporte ganhado de brinde num whisky, um comprimido anônimo, cartões de visita, um celular, boletos bancários, um lápis apoiado na quina da borracha, uma caneca recém despida de café, uma câmera de vídeo inutilizada, um corretivo sobre a impressora, uma pilha de cd’s na caixa, um livro virado, um controle remoto, caixas de som pequenas, cinzas, ao fundo, um teclado sobre uma mesa de madeira feita de vãos, uma carteira, a chave do carro, dentre outras, no mesmo molho, sobre a cadeira, muitas revistas e livros no meio da leitura, um armário embutido de portas fechadas, um receptor de tv a cabo, uma tv comum, a porta, a chave da porta, uma bolsa a tira-colo sem tira-colo, duas caixas fechadas, um grande fone de ouvido, uma pasta preta, um armário de correr, pedestais de microfone, dois travesseiros usados, uma colcha de flores, uma cama de solteiro, um quadro, dois braços, uma fita amarela do senhor do Bonfim, pernas, bermudas, chinelos, pés com dedos, uma sensação de pulso, os dedos das mãos, o teclado, uma capa vazia sob um tubo de cd’s virgens, um monitor, o resquício prático de uma garrafa de whisky, uma embalagem unitária com comprimido dentro, cartões de visita...