Jun 16, 2010

Três apitos sobre a poesia contemporânea

De volta a Porto Alegre, lá estava eu lendo um teórico francês sobre poesia contemporânea e duas análises me chamaram a atenção, ao que acrescento outra, fruto de uma conversa minha com uma amiga nessa última viagem.

Diz o teórico: diferentemente da máxima de Mallarmé de que a poesia está na palavra e não na ideia, hoje a poesia está presa na palavra. É como se fosse um pouco ingênuo o poeta acreditar que ainda seja possível alguma originalidade de sentido e bastar-se (quase simbolisticamente) no que a palavra pode causar com sua imagem acústica. (Espero ter saído dessa armadilha no livro que estou lançando, porque busquei sair).

Encore le penseur: talvez um dos problemas atuais da poesia seja ela ser um gênero marginalizado dentro da cultura já não hegemônica do livro. Lá está o leitor (onde? onde?) que resolveu sair de casa para comprar um livro ou pedir para algum site mandar um livro pra sua casa. No fim da fila de auto-ajuda, biografias, baixo romance, crônica, alto romance, quadrinhos, livros de moda, aforismos (opa!), está sua escolha por um livro de poesia. Será?

Agora sou eu: a poesia está na contra-corrente do ritmo e da direção da leitura contemporânea. Pelo grande número de símbolos diários de nossa cultura visual, somos treinados desde cedo a ler com rapidez, teleológica e pragmaticamente. Daí vem o poeta e diz: passei um tempo a escolher a palavra exata para este verso, eu preciso que você acredite em mim e que acredite que esta escolha fará alguma diferença na tua vida simbólica. Na pressa do leitor se confudem o poeta brilhante e o poeta medíocre, eles se igualam na linha média da sacada, da boa ideia pra um poema, do puro wit como alimento lírico.

Terão algum sentido estas reflexões?