Oct 29, 2010

Julio Cesar, o cético

Juntamente com um artista plástico e amigo, Guilherme Orosco, venho trabalhando há algum tempo no Julio Cesar, uma espécie de quadrinho que tem por proposta manter uma conversa constante com a poesia, com a filosofia e com a semiótica.

Normalmente, o argumento nasce de uma intuição minha (alguns, de uma intuição do Guilherme) e faço um pequeno roteiro. O Gui pega o roteiro, dobra a intuição com seus insights imagéticos, propõe novos sentidos e, então, chegamos num resultado final que os dois concordem estar bom e coerente à personagem (que a esta altura já tem vida própria e independente de nós).

Até hoje era esse o trabalho! Agora, que pensamos em organizar uma publicação, estamos voltando aos muitos quadrinhos e quebrando a cuca para lhes dar uma forma "temporariamente definitiva". Eis aqui o primeiro exemplo. Um grande abraço e muita arte a todos!

Oct 20, 2010

Quero um barco

Não sei se já trouxe um convidado aqui. De toda forma, para quem sempre pregou a ideia da maior democratização possível de espaços e oportunidades, estava mais do que na hora de abrir esta casa virtual para outras pessoas. O texto que segue, intitulado "Quero um barco", de Raul Rodrigues, traz reflexões bastante simples a respeito de como levar a vida e até mesmo de como levar a arte (quando estas não coincidem). Apesar da aparente simplicidade, acredito que algumas das lições presentes no texto valem a pena como objeto de reflexão e debate. Como dados biográficos, o autor é baterista e percussionista, além de cursar o terceiro ano de Música Popular na Unicamp. Comentários são sempre bem-vindos. Muita arte a todos!

Quero um barco

Raul Rodrigues

Quero um barco pra viajar longe! Achar uma ilha desconhecida. Procurar, procurar... viver à procura.

O barco pode ser pequeno, mas que seja seguro e navegue bem. Levarei flores, bichos e causos.

Uma boa tripulação será muito bem-vinda, mas posso tocar sem ela. As plantas podem virar grandes árvores, os pássaros baterem forte as asas, o sopro do vento, culpado de muito, levar longe as copas e, junto, minha pequena embarcação. No caminho, cores de todos os sabores, timbres e cheiros vão aparecer e nomear o barco de "ilha desconhecida". Passo timoneiros, poiteiros e capitães; fico com os curiosos, humanos, loucos, procuradores eternos de suas ilhas.

Que chato seria se a resposta de tudo estivesse nos mapas.

Não quereria um barco, não haveria “ilha desconhecida”.

Não haveria procura, procura, procurar... vida.