Mar 15, 2007

Cansaço

Uma novidade. Homens adultos também podem ter novidades, por mais que se forcem a não tê-las. Um novo tipo de cansaço. Com o livro já em andamento e também as gravações, ainda produzindo com nunca, arte cada vez mais íntima, abstrata e (posso?) competente - por isso, distante do que se "fabrica" -, sinto-me como se já não houvessa nada o que fazer. E, por mais que houvesse, e há, na verdade estou me distanciando da aceitação e da possiblidade de viver de arte. Poemas concetrados, como o que postarei abaixo, e músicas, muitas vezes finíssimas ou estrondosas, possuem cada vez menos adeptos. E até os que se dizem adeptos revelam-se, após algum tempo, inaptos para apreciação. Hoje ser inteligente é somente um lugar privilegiado das relações sociais, por isso, as pessoas que podem fingir os ocupam vorazmente e ao custo necessário. Dois poemas me envolvem o espírito desde cedo, não tenho a mínima vontade de esforçar-me em escrevê-los justamente pela falta de utilidade que eles possuem em si mesmos. Devemos criar algo que se revelará inútil quando tiver auto consciência? Questão antiga, bíblica até. Nunca havia tido essa sensação de inércia antes, eis a novidade. A arte sempre fora indelével e incontrolável, furiosa e consoladora, o único artifício para o qual conscientemente perdia o controle. Talvez toda essa besteira seja só para a morte perder peso. Talvez seja a forma precisa para se estar pronto. Espero o dia seguinte trazer a brisa criativa da vida. Os olhos abertos ao engano da criação.

Espectro

na casa da gente não tem fantasma
que não mente

p.s.: Divirtam-se!

1 comment:

said...

Eu diria que hoje Ser inteligente é cada vez mais raro de se encontrar na rua, pq o dito ser já não abriga mais os corpos consumidores medíocres dos fans da Paris Hilton.
Ainda bem que temos uns aos outros para as horas de desespero.