Mar 13, 2007

Meu total descompasso

Acordo sem alarme mecânico às 6h30, mesmo tendo dormido às duas da manhã. Tomo café, escrevo, flui melhor antes da overdose jornalística na sensibilidade, tomada logo em seguida. Aprecio descompromissadamente "Cem anos de solidão", perco-me um pouco, reconheço-me um pouco nestas desventuras amorosas. Escrevo um conto, "começo um conto" seria melhor, por estar ele (nós?) ainda em fase de estrutura. Assalta-me um sono absurdo, de cérebro, sem escapatórias. Durmo até as dez, toco violão, só as clássicas, sigo para o trabalho. De carro, antes do serviço obtuso, minha cabeça segue refazendo alguns arranjos de MpB4 (não, nunca estudei música de verdade). Canto com eles melodias alternativas a algumas das que cosidero as grandes músicas, adiciono instrumentos, retiro outros, mudo letras do Chico (santa heresia), desloco-as no compasso. Assim que saio do trabalho, o resultado é quase instantâneo: um sambinha pronto, coloquial, de duas estrofes, bem à Noel Rosa (guardadas todas as diferenças de talento). Chego em casa, coloco o samba no papel, toco música pop no violão, leio revistas e daqui a pouco hei de me virar com "A essência da poesia" e erigir mais um bocado do musical em que trabalho viciadamente, graças a algumas canecas de café sem açúcar da mamãe.

É tudo como se o mundo passasse em paralelo... Também por isso, sinto-me inútil como um alumiador, uma caneta-tinteiro, um tipógrafo, um mimeógrafo, um escafandro, um dirigível. Partir-me ou partir, importa pouco. Fico pensando se estes objetos, mesmo que vagamente, também tinham noção de sua rotina caminhando para o descompasso.

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