May 22, 2007

Nós que aqui estamos...

Voto pelos filmes sem legenda, principalmente se nacionais. Convido a todos que puderem a assistir ao filme "Nós que aqui estamos por vós esperamos" (1998) de Marcelo Masagão. Trata-se realmente da união de um acervo impressionante de imagens a respeito de nossas reiterações equivocadas e do fim inefável que nos unirá em covas distintas mais tarde ou mais cedo. No entanto, a idéia de inserir as legendas com comentários e explicações aproxima demais a excelente idéia do vídeo "Protetor Solar", que recentemente foi de conhecimento obrigatório de todos, e que é, no mínimo, vergonhoso de tão patético. Algumas legendas ainda, infelizmente, causavam-me o riso do ridículo, enquanto o assunto a que referia era excessivamente denso e pesaroso. Preciso ver mais vezes para verificar a improvável intencionalidade do recurso. Para me livrar do "Carpe Diem" sinistro que me gerou o documentário, deixo um poema antigo, com cheiro de talco. A ignorância inocente que tantas vezes eximiu-me da reflexão.

O seu beijo é isso

Seu beijo carrega, como uma bela noite apresenta,
O gosto e o posto de um orvalhar sincero.
Pousa sobre a minha pele sem licenças,
E prospera lentamente a noite toda.

Caso eu recrimine, por medo de atacar-me a vil doença
Das camas, e retire-me do sereno.
Seus lábios educadamente me acompanham,
Às vezes, carregam-me para dentro.

Se a noite ferve, sem conter as hordas, arrebatam
À força, minhas queimaduras,
Faz troça infantil quando me dispo.

Mas se os invernos é que ao tempo fitam
Sua mais rigorosa ditadura,
Cala-me em labareda. O seu beijo é isso.

2 comments:

tagg said...

engraçado, também andei reolhando poesias "das antigas". ao contrário do viço, encontrei vício (rs). um dia te mostro alguma coisa.
eu não consegui ver o "Nós...". isso aos 20, creio. não tentei, depois. as cenas terríveis não saíram da cabeça, memória (seletiva? sei...).
passa lá no(s) blog(s) (tem coisa nova só no taggidi, mas não sei se vc viu os outros).
bjo, gu.

Anonymous said...

Assisti "Nós que aqui estamos por vós esperamos" na escola, quando era bem mais nova. Dá medo de passar por essa vida e não deixar marca nenhuma, desaparecer, simplesmente. Já tive mais medo, é verdade...
Outro que me marcou demais doi "A ilha das flores". Outro vídeo incrível, do qual me lembro mais, porque assisti antes, e era realmente novinha. Acho q tinha uns 9 anos. Fiquei chocada com montes de coisas. Acho que foi aí que começou minha adolescencia pseudo-revolucionária (queria ir fazer medicina em Cuba e me juntar a Fidel, depois fui vendo que o socialismo é bem mais bonito nos livros - unico lugar onde realmente existe).
Boas lembranças. Acho que um dos maiores presentes que podemos dar a nós mesmos é a possibilidade de nos lembrarmos de nós, com carinho.
Também vi o vídeo do protetor solar, mas em ingles. Não virou febre aqui, não fui ao ar, não teve tradução. E viva o youtube que massifica o besteirol internacionalmente. Nem a usar o tal do protetor solar o vídeo me convenceu.
Mas os outros dois me marcaram demais.
Beijos são confusos e complicados, além de turvar julgamentos, decisões e sentimentos. Teu poema reforçou minha convicção.
Acho que se eu não estivesse tão amargurada com o tema, o acharia bonito, mas as experiencias pessoais do escritor e de leitor se refletem na leitura, e é por isso que a arte é tão bonita. Também por isso, que as vezes, o artista falha em transmitir sua mensagem. E a culpa não é dele, é do leitor-cabeça-dura.