Feb 26, 2007

Os objetos do quarto escuro

Os olhos dos amantes percorrem os objetos do quarto escuro. Logo se deparam com aqueles que alguma claridade trouxe do nada. Por serem maiores ou providencialmente dispostos, estes objetos se definem como amparos ou obstáculos, e ditam, por conseqüência, como se portarão os olhos dos amantes para o amor. Por mais que estes objetos amedrontem a percepção despreparada, mais cuidado devem ter, os olhos dos amantes, com as saliências ocasionais da penumbra. Os volumes mesquinhos, os atos ordinários, o oculto pontual, neles reside o grande perigo para o amor. É comicamente patético, se não fosse triste de alma, ver os corpos dos amantes, no equilíbrio volumétrico, se desviarem dos grandes objetos, para se verem feridos no ridículo, mortalmente feridos no ridículo. Muitos desperdiçam a vida na tentativa de previamente esclarecer o quarto. Outros tantos vão de maneira tão lenta que o sucesso quase não transborda a opacidade da cautela. De minha parte, fecho a porta sutil e infantilmente, talvez por perder-me na chave.

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