Nov 21, 2006

A substancialidade

Ontem no "Genésio" (bar muito bom da Vila Madá, mas um pouco caro), um casal de desconhecidos travava árduas discussões com o restante da mesa acerca da possibilidade de estarem ou não namorando. Tudo muito banal, sem propósito e muito mais ligado às experiências individuais de cada um deles do que a posturas diante de costumes tradicionais. Minha única intervenção foi perguntar a eles se estavam apaixonados, o que gerou um silêncio funesto na mesa por alguns segundos, alguns risos, mas enfim... A reflexão que me tomou durante dois ou três minutos depois do ocorrido, e que talvez importe mais do que se a Carlinha é namorada do Gigante ou não, é de que as palavras guardam seu peso e sua substancialidade de maneira análoga à possibilidade de uma ocorrência. Explico-me: é tão verdade que afirmemos que as palavras não tem peso nenhum e o que vale é o instante ou a projeção de que derivam, quanto afirmarmos que mais vale o acordo sobre o fato,instaurado pelo discurso, do que o próprio fato em si. Assim, a palavra namoro, tão discutida entre os dois arquitetos, teria naquele instante peso nenhum e todo o peso possível, simultaneamente, a depender das possibilidades em que estiver, ou vai estar, inscrita. Pois o fato oculto na curva da possibilidade de ocorrência pode ter todo o valor do mundo - e assim, corpo, peso, substancialidade, importância - ou ser somente atavio do espírito, motivo de angústia, como aqueles riscos de fogo que eu via nas festas juninas de minha infância mineira. Se bem que os buscapés sempre machucavam alguém mais tolo!
Como lembrete: de hoje a domingo rola um seminário de cinema e psicanálise no Centro Cultural Banco do Brasil, não que eu tenha ido em versões anteriores, ou mesmo tenha saído muito de casa ultimamente, mas pelo nome (sem circunstância) parece bom.

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