Feb 10, 2010

As possibilidades da vanguarda

Das poucas discordâncias teóricas que tenho com meu orientador - e é bom que existam, pois não discordar em nada de alguém que se admira é ainda pior do que discordar de tudo -, a questão da vanguarda certamente ganha um lugar central.

Concordo com ele e também tenho poucas dúvidas de que a vanguarda é, no todo ou em parte, um reflexo da exigência humana pelo novo, especialmente acirrada nestes tempos de tudo-mercadoria. Concordo ainda no que tange ao perigoso quadro de valores que uma cultura de vanguarda implanta, o do novo a qualquer custo, que acaba gerando patéticos objetos de arte até alguém vire, possivelmente uma criança, e diga "mas, peraí, isso aí é só uma lata de lixo" ou "papai, por que ele usou essa rima?". Não tenho filhos, por isso são todos poetas.

Discordo, entretanto, quanto à impossibilidade de existência contemporânea das vanguardas. Acredito piamente (talvez seja esse o advérbio exato) que ainda há espaço para elas e que o problema de sua atual inexistência, ou pior, sua proliferação frágil (que acaba dando no mesmo) é mais profundo do que sonha nossa vã prospecção.

Numa geração iludida com o oásis do conhecimento infinito e virtual, e, na prática, com pouquíssimo tempo para pesquisa estética séria, a busca pessoal e intuitiva por novas disposições formais para a própria obra acaba cedendo a resoluções fáceis, extremamente provisórias e apressadas. Problema amplificado justamente pela exposição democrática (que acho ótima) a diluir bons artistas na multidão de auto-enganos.

Não sei se vou chegar a ver melhorias nesse quadro (o que ironicamente me faz concordar com meu orientador, já que os pontos só valem mesmo enquanto estou vivo, não é?), mas reafirmo minha discordância, na certeza de que o comum (e saudável) é ser cético quanto à vanguarda. Sempre foi assim. Sempre se desconfiou da possibilidade de rearranjo formal das coisas, até surgir um artista capaz de fazê-lo com maestria.

Isto é, pode também não ser mais possível e se tornar a última e definitiva derrota de nossa cultura.

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