Apr 29, 2008

Concisão contemporânea?

Nessa odisséia de concursos literários, editais e festivais de música, achei um concurso de haicais promovido pela Secretaria do Estado do Paraná. Como meu contato com essa forma foi sempre bem escasso (histórias literárias e Leminski, no máximo), corri ao site indicado no edital do concurso para aprender mais a respeito e compus sete ou oito poemas do gênero. Salvo a forma muito estrita e o "termo de estação" quase obrigatório, esse modelo de origem japonesa traz, pelo menos, a ausência das rimas e a concisão como características muito recentes em nossa tradição lírica. Não sei se os leitores de hoje encontram paciência ou relevância em epopéias, odes ou, até mesmo, sonetos. Também desconfio que se impressionem com tal ou qual rima tirada da algibeira. Em algumas vezes, às vezes muitas, tenho a impressão de que estes poemas são mais compostos mais para um determinado escol e para a academia do que propriamente para quem os queiram ler. Enfim, não seria tacanho a ponto de afirmar que os haicais são o caminho da poesia, obviamente, mas pelo menos trazem boas sugestões e caminhos interessantes, a serem seguidos, adaptados ou abandonados. Seguem os experimentos.

Imerso na pedra
Rústica, sobrevive um
Coração de estátua.

Pássaros na chuva
Sobrevoam as mais raras
Áreas do possível.

Os cascos faíscam
Os espíritos dos jóqueis,
Se o cavalo é arisco.

7 comments:

Isaac Frederico said...

o grande trunfo do haikai, em meu ponto de vista, é a singeleza de seu conteúdo.
na verdade, apenas sua forma é estritamente singela, uma vez que poderíamos divagar sobre a singeleza de qualquer conteúdo.
mas o espírito frequentemente bucólico e contemplador é um às ..
vide aqui os exemplos postados, onde o último tem minha preferência.

Guto Leite said...

Caro poeta, pensei bastante no seu comentário. É bem novo associarmos valor à singeleza, mas acho que tens razão. Tanto de forma quanto de conteúdo... Preciso pensar mais a respeito, mas certamente é mais uma boa questão a ser colocada! Obrigado pela sapiência constumeira...

Anonymous said...

Gosto das imagens que são criadas. Um poema em movimento, vivo e colorido.

Sobre paciência pra leitura... Já paguei mais pau pra forma. Agora ligo mais pra conteúdo. Já gostei mais de procurar o que o autor tenta dizer, em versos complicados. Agora gosto mais do que é dito de forma visceral. N sei se é culpa da idade, do pragmatismo ao qual o curso tem me habitudo. N sei se sou só eu, ou se é mal da geração.

Guto Leite said...

Ou "bem da geração", Dani. Acredito, por enquanto, nesta espécie de tendência. Obrigado pelas boas críticas!

Anonymous said...

Achas que é uma tendência geral?

Guto Leite said...

Acho sim... que tempo tem o cidadão comum para a arte? Lusíadas ainda podem ser feitos, mas duvido muito se poderia chegar tão alto com "lector salteado" de hoje em dia. Não concorda?

FlaM said...

Engraçado e já gosto é dos 2 primeiros e quase nao gosto do último. Acho que aqueles têm o elemento constante no hakai que é a natureza, e a relexão proposta por algo de inusitado no poema, que é introduzido por "coração de estátua" e "áreas do possível"...