Jun 18, 2007

Paixão pela vida

É estranho que eu tenha chegado vagaraosamente à conclusão inevitável de uma seqüência de pequenas epifanias. Tinha vivido até então na ditadura da auteridade da forma mais opressora possível. Chega de içar os planos dos outros ao lugar de destaque! Chega de balizar a composição da arte pela fala do crítico mais do que ela significa, e justo isso, somente, a fala de um crítico! Chega de moldar minha aparência física e moral aos desígnios de quem quer que seja. Pode parecer um grito, alto, mas para mim soa o contrário, um sussurro calmo e repetitivo: paixão pela vida. Quero tomar o instante pela proa da única forma que se deve tomá-lo, com paixão. O meu amor pelos outros não se traduz em submissão, mas sim no amor de que sempre fui feito pelo humano, que não me desautoriza a sumir por meses quando minhas freqüentes decepções exigirem. As pessoas correm vivendo o instante reciclado, perfeito, inócuo e sem gosto nenhum. Um placebo do tempo. Mais do que deixar a barba crescer até que incomode; mais do que acostumar os outros a poder sair de onde estiver a qualquer hora sem ser importunado e, em alguns lugares, chegar a hora que quiser; mais do que, amorosamente desiludido, não crer mais em qualquer tipo de palavra que transborde o presente em suas promessas; mais do que priorizar aquele "momento brilhante" que doma tomo homem inspirado após a criação artística (segundo João Bosco) e dar prioridade a isso; mais do que essa vontade aprendida pelo que é verdade, indizível, mas compartilhada... é o mesmo sussurro, paixão pela vida, paixão pela vida... Sou a favor das falas bonitas, das pessoas bonitas, dos atos bonitos, da piedade para consigo e em relação ao outro. Ou seja, tudo que é poesia fora da letra. Agora sim sou artista, mesmo que que, porventura, me achem grosso e sem talento. Logo retiro a última amarra que me suspende antes da maior das aventuras! E minha vida depois de mim, que só sou (sem possibilidades de flexão), é o grande abismo da possibilidade e do acaso.

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