Jan 6, 2007

Sumindo

Nos últimos dias, me arrasto com uma sensação estranha e, de certa forma e definitivamente, paradoxal. Tenho a certeza de que preciso fazer o que eu preciso fazer (soou uma frase americana idiota) e, ao mesmo tempo, de que nada no mundo vale qualquer esforço. Irônico, não? Seria, certamente, se isso não causasse uma sensação de embriaguez constante e amedrontadoramente irreversível. Tenho escrito bastante: roteiros, poemas, canções e contos. Algo como o instante antes da urgência.

Abaixo

quero chover-me às enxurradas
e as pessoas
todas perdidas
pela água
lançarem-se a qualquer tronco
para salvar-se

mal a cidade acaba
de livrar-se
de minha triste fissura
deve encontrar um
meio
para escoar-me

não há medida em curso

já sou eu contra as construções
inundando as casas
retirando as mães da cama
para depois deitá-las
submersas na água de minha fantasia

e o que era chama
e ardia inquieta
vaporiza-se à revelia
em novas matérias-primas
para a tormenta

pena que as crianças não tem força
para agarrar-se embora
tentem
e os talassofóbicos presos
em sua ilhas áridas
se atormentem

enquanto vou me chovendo
em pálidas desordenadas
curtos longos óbitos
oferendas a santas baianas
de perna à mostra

já sou tão líquido
e em tanto
que creio ser difícil
reter-me
de volta

pois não há guardo

Oxalá
ser chuva
e dispersar-me

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