Jan 20, 2009

Uma brincadeirinha vergonhosa

De vez em quando, como uma brincadeira, até então, própria, escrevo algumas coisas que se encaixam nos furos que o discurso deixa para nos desentendermos... Sim, nada mais, nada menos, do que uma espécie de onanismo lingüístico, destes que se põe o fim e ri-se sozinho (nada mais triste do que alguém à caça de divertimentos, não?). Embora esteja escorado em camaradas como Borges, Machado e Kafka, entre tantos e melhores outros, peço que me perdoem por compartilhar com vocês esta prática tão vergonhosa!

trick question

perguntado a respeito de qual é de fato o destino das gentes, o tolo respondeu, salvo as milhares de nuances, todas as almas do mundo se dividem em dois grupos bem delimitados, os imediatos e os profiláticos, os primeiros acreditam poder saciar sua incompletude atendendo prontamente a qualquer anseio que lhes dite o corpo ou o espírito, os últimos, diferentemente, acreditam que, negando estes mesmos anseios que lhes surgem à mente, ou à mente do corpo, favorecem a chance de um dia tornarem-se plenos, aqueles, após vidas sucessivas que consomem fazendo o mesmo, encontram, por fim, o inferno, estes, após, simétricos, consumirem também seu tempo entre nascimentos e óbitos, encontram o céu, assim se define o destino das gentes do antes ao depois, estupefatos com a revelação, absolutamente humanos, os inquisidores hesitaram, tolo, o senhor está certo do que dizes, é claro, respondeu, se não, tolo eu não seria, é isso, exatamente isso, ou seu contrário

8 comments:

Victor Meira said...

Guto, ótima personagem, nego! Me lembra pacas o coveiro que dialoga com o Hamlet. A forma do texto é pouco clara, o que ajuda a reforçar a entropia do conto; com isso, o enigma cresce e o leitor tem maior sensação de descoberta ao longo da leitura, o que o faz ter mais vontade de esmiuçar o argumento proposto pelo bufão.

E é provocativo o argumento, realmente. Dramaturgico, diria, mas coerente. Acho que por isso prossigo aqui na posição dos inquisidores-hesitantes.

Ao menos por hora. Ou até o primeiro disparate de um eventual tolo.

Adriana Riess Karnal said...

tricky.

Anonymous said...

Fazia tempo q n lia nada q me fizesse sorrir por me identificar, por me sentir tola, mas uma tolice do genero "fazer o que? dadas as opções, não há escolha acertada". Mas tb, fazia tempo q n passava por cá =)

Anonymous said...

Tricky mesmo. Gostei.


Abraços d´ASSIMETRIA DO PERFEITO

Anonymous said...

aniquilando o budismo...

extremos.

Unknown said...

Perfeita argumentação.
Gostei demais.
Um dia eu aprendo.


beijão ;;

=]

Luciano said...

Vergonhosa brincadeirinha boa de se ler. Obrigado pela felicidade da leitura irmão.
Abraço.

Beatriz said...

Gostei da idéia de prencher esaços, frestas entre as palavras num tipo de gesto-solidão.
Neste caso, depois de ler os tipos, mas já antes disso sempre pensei: a vida não tem cura.
Beleza de post.
Ah, abri o CD-lado b. Logo venho nas duas versões. Beijo bjo