Jan 15, 2009

Depois do pito


Como na segunda, levei um pito da Béa - por ter perdido o faro -, posto hoje, enfim, versos de que realmente gosto, apesar da usual estranheza que causam nos outros. Escolhas, escolhas. Versão são acima de tudo escolhas, sua metonímia e seu microcosmo. Recentemente tirado do barro, fica o meu carro de boi.

carro de boi

no princípio era o boi
puxando a carroça
viu o boi que era bom

depois
o homem do nada
para subir-lhe às costas
ainda bom

séculos se multiplicando
sobre a terra
o boi
o homem
sobre a carroça
cada um com sua costela
(tecnicamente bisteca para o boi)
povoaram todas as estradas

visto que a piedade nasce
assim que morre a esperança
quis um bom homem trocar com a montaria
e os outros bons o imitaram

hoje
quando os bois que restavam no arreio
subiram à carroça
só os melhores homens passaram
a arrastar o mundo

por que levá-los às costas
se ruminam
sem qualquer consciência do destino
se perguntam

1 comment:

Heyk said...

QUe legal guto, me fewz lembrar uma lenda que ainda não escrevi.

A do racha dos bois da índia com os bois do resto do mundo.

vamos trocando.

QUe beleza, querido.

Até