Nov 12, 2008

A alegria de um poema

O que significa realmente a existência de um poema na língua de seu povo? Adorno, do lado de lá do muro teórico, aposta na ruptura do Eu, que se põe antitético à realidade, embora se universalize ao soar linguisticamente. Levando um passo adiante o seu raciocínio - trepando no muro -, o poeta seria aquele que vê o que qualquer um poderia ter visto, mas não viu, por isso é individual e social ao mesmo tempo. Elliot, do lado de cá, brada o dever do poeta com sua língua e com a sensibilidade de seu povo. Assim, a poesia carregaria este estandarte do prazer responsável, alargando e requintando a tessitura semântica da nação. Eu, do lugar nenhum, creio na alegria do poema, na sua capacidade oasística de abrir um largo sorriso no discurso, de olhar o bom senso com o chapéu de palha abaixado sobre os olhos, de ser um tapa ou um sopro surpreendente no sentido inerte, que, por estar inerte há muito tempo, já não espera mais nada.

cinamomos

nas árvores longilíneas
− uma tia morta de câncer −
há a vida da poesia

não nos mangues nos pântanos
nas árvores frutíferas
nas bocas dos meninos cheias de ovos de moscas
não nas cidades

parangolando as folhas da impossibilidade
pende o viço que salta
por saber que morre logo

os pássaros mais bonitos se aninham é no espinhaço
os pássaros vivos

3 comments:

Anonymous said...

um sopro surpreendente no sentido inerte, que, por estar inerte há muito tempo, já não espera mais nada

aí que eu me refiro!
hehehehehehehehe

de cada mil sopros um surpreende o sentido... hehehe

braço!!

Anonymous said...

cortante esse.

Heyk said...

que legal, o papo Elliot/Adorno.

Tem tanto sentido isso. A coisa e não sei se ela tá aí é seguir os caras. Isso aí não é bula, né. É só dito. Aí o que a gente faz: o poema com alegria, com nação e quase sem linguística, entende? Acho que é isso. Bate de liquidificador e prova, se gostar do gosto usa, se não põe mais adorno.

Hehehe

Um bjo, querido