Dec 4, 2007

Amador da arte

Há uma sensação permeando a vida das pessoas. Se não há realmente, eu a crio, então há. Um certo teor de descuido nas ações, preocupações, carinhos, na forma geral de tratar outra pessoa. Não falo do descuido pontual ou fortuito, a esse todos estão sujeitos, por desconhecer a abrangência da vontade do outro e pela força destruidora do hasard, mas falo do descuido como premissa de vida, como axioma que organiza o quadro de ações morais. A ausência completa da noção de que há, além de si, outro eixo, que reúne vontades, medo (propositadamente no singular), limitações, crenças... É muito mais fácil viver dessa forma, organismo independente e transversal, mas certamente é outra das grandes ilusões em que se tem erigido a vida ("a vida é um sopro, né?"). De minha parte, cabe entender e criar, entristecer e criar, café e pílulas, esquivar-me. Tenho dado essa resposta num roteiro, numa peça, nos poemas, nas músicas. Tenho respondido na forma arredia com que me relaciono, não se percebe? Ironicamente, a única resposta que tenho encontrado é transformar-me neste organismo independente e transversal, com a diferença de que no medo de descuidar-me do outro, não o trato. Por lá ser mais forte, no traço, torno estritamente um amador da arte.

3 comments:

tagg said...

escrevi, perdi, reescrevo. pouco quase nada do de antes. só: a gente se vê pruma cerveja? bjos

tagg said...

escrevi, perdi, reescrevo. pouco quase nada do de antes. só: a gente se vê pruma cerveja? bjos
retomamos ilusões.

Anonymous said...

"É muito mais fácil viver dessa forma, organismo independente e transversal"

Não, não é. Pra mim não. Eu me dou e me perco, e amo, e odeio, e sou intempestiva, e me afasto, e grudo, e sofro. Mas não consigo ser transversal. E nem vc, por isso nem vem bancar a pedra de gelo, pq n caio nessa.