Dec 11, 2008

É ou não é meu?

O poema que segue nasceu de uma angústia que sempre tenho ao ver imagens antigas de pessoas. O ar de morte que as acompanha normalmente me deprime muito. Comecei a fazer o poema, a escolher as palavras, as imagens, então surgiu esse Cemitério da Glória para me tirar a paz. Realmente não me lembrava do lugar e tive que pesquisar na Internet para saber que é um grande cemitério no centro das terras da minha vida, perto do lugar onde morei por anos. Brinco: é meu ou não é meu este poema?

o cemitério da glória

o cinema são fotos piscadas
rapidamente
do toque da pálbebra
na pálpebra adjacente
ao desenlace
há toda uma vida de escuro
das fotos nunca tiradas

hoje é dia de memória no cineminha do centro

enquanto os atores vivos ganham cores
nas poltronas
com imagens do passado
bicolores
choro a imensa fila
de caixões metálicos
que aos poucos encheu o cemitério da Glória

6 comments:

Anonymous said...

Pergunta retórica?

Já disse mil vezes, e vou continuar nessa tecla, quando você fica Ártico, e é tomado por essas imagens apocalípticas (lembra muito o Eliot diga-se de passagem), e seu humor Drummondiano se rompe e dá lugar ao frio ártico cético e acido, eu acho que encontro vestigios de você. E se a pergunta não for retorica eu respondo que, na minha visão obtusa, é aqui que você mais aparece.
Nos roteiros do J.C. consigo ilustrar melhor o que estou dizendo comparando O grego com o Ontológico II...

Anonymous said...

cinema e cemitérios...expressionismo alemão.

tem sombra e tem luz no seu poema, gostei.

Beatriz said...

Gostei de todos. Uma dose de poesia e tanto para iluminar os dias. Aqui, tudo é seu.

Anonymous said...

Oi, Guto Leite. Já conhecia seus poemas. Entro sempre no seu blog. Mas só hoje ouvi Abracabrália. Sonzeira da melhor qualidade. Parabéns. Abraços da Bel.

Victor Meira said...

Me fez pensar que há atores vivos, mas nenhuma personagem morta.

Boa poesia, Guto. Gosto do compromisso que você tem com a linearidade do significado, e a unicidade das figuras. Fica sempre tudo muito bem amarradinho, gostoso de ler.

Abraços, bom filme.

Guto Leite said...

Salve, salve, muito obrigado a todos pela genrosidade. Como sempre, o Gui vai no ponto. Pois é, parceiro, às vezes penso isso também, agora preciso ver como transparecer este traço. Agradeço, especialmente, também à Bel pelos elogios à Abra. Gravamos logo, vamos ver no que dá! Aos demais, os mais variados agradecimentos. A começar pela confiança na leitura, que realmente me honra! Muita arte a todos!