Ainda entre caixas, carretos, o leva-e-trás das coisas físicas e imediatas, posto outro poema da velha guarda. Feliz porque a Flávia indaga se devo mudar. Feliz porque a Val leu, compartilhou e amou, amor de poeta vale cem czares. Só mudo quando algo puxa para onde vou, quando não há mais casa. Sou mineiro, por isso "terra" é a minha terceira palavra. Espero com as novas linhas, que ainda demoram a sair, decepcionar pouco os olhos de linho que me lêem. Talvez eu tenha achado um jeito novo. Talvez seja o mesmo novo de tantos outros. Ainda há espaço, com tudo, para os poemas de sempre. O tempo máximo e o nulo protegem as boas palavras.
parto
não importa o quanto eu sofra
não importa o quanto eu vença
não importa o quanto eu corra
a dança que mostre o vento
os passos que eu mate ou morra
não importam meus amores
o tempo desta sentença
não importam minhas cores
aquilo que eu tome ou roube
a filha o cofre ou a crença
não importa o quanto eu sinta
as mágoas da diferença
ou sem sentir que eu inveje
pela fibra posta em prova
que eu deseje quem morrer
não importam minhas glórias
a toga de bacharel
não importam minhas falhas
não importam meus cristais
não importa o quanto eu saiba
quantas casas decimais
não importa se na prensa
eu quase perder a mão
os dentes que me restarem
para sorrir amarelo
não importa que eu enfeite
a ponte para o castelo
sobre um rio de judeus
não importa que eu livre
do campo a foice o martelo
as medalhas na parede
nos nomes o medalhão
não importa que eu calce
a alpercata e a sede
que eu sinta a fome do chão
não importa que assegure
a permanência dos bens
não importa que eu procrie
não importa que eu recrie
as formas do bem dizer
não importa o quanto eu grite
não importa quanto sangue
minha mãe possa perder
tudo será destruído
tudo será redimido
no instante em que eu nascer
Mar 15, 2010
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1 comment:
bonito, forte e emocionante, da série "gostaria de ter escrito". valeu.
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