
Estou lendo as "Memórias Póstumas" para a prova de mestrado. Como é soberbo nosso velho bruxo! Sempre me reencanto por tuas narrativas, teu estilo, teu humor peculiar. Para mim, não deve nada aos grandes da prosa mundial de qualquer tempo. Em sua época então! Só não se entedia no bar com Dostoiévski... Todos os outros, incluo Flaubert, estariam na mesa ao lado comendo amendoins. Falando nisso (provocativamente), em vultos, não em amendoins, é até perdoável que os poetas brasileiros sejamos hesitantes, incipientes, opacos e até menores. Nunca tivemos um Machado para apreciar num fim de tarde, com o Sol descendo às suas costas. Prosadores medíocres, no entanto, no Brasil, são imperdoáveis! Ou como afirma Schopenhauer, se os encontramos nas estantes das livrarias, são certamente beneficiários de algum conluio de editores dos mais desonestos. Depois do argumento, deixo alguns dos meus versinhos, desde já perdoados de sua evidente frouxidão. Não tiveram pai que o cuidassem com zelo e disciplina.
Nos trilhos
é tanta certeza que o grande corpo de ferro estará sobre a linha
que até se forjou um verbo
− descarrilha −
para falar do imprevisto
calmos tempos aqueles
o tempo dos feridos
quando se reuniam
pelos descarilhamentos
hoje que os carros têm sob si somente intravasáveis culpas de ferro
e escapamentos
− onde foram parar os corpos dos bondes −
as manhãs se enfileiram
duras sob a faísca
as sombras das máquinas aceleradas causam a sensação dos dias
estáticos um ao lado do outro
jamais nos surpreendemos
finitos esperamos morrer em nossas linhas