Em minha casa nova, matenho o hábito de rasgar todo papel que a impressora não devora e deixar na gaveta. Assim, se preciso anotar algum dado, site, livro a ser comprado, pego logo os retalhos para tirá-los da vista, quando cumpridos. Às vezes penso no espírito fragmentado do homem contemporâneo, capaz de multiplicar seus focos de atenção e simultaneamente ter dificuldades em manter um único foco por muito tempo. Ou então em sua multiplicidade superficial de conhecimento, que em tudo se estende de maneira frágil, sapo pequeno pisando em folhas de um lago. Meus papéis rasgados seriam fragmentos disto que trago por baixo, escondido dentro da pele? E o que é? Segue um poema dos últimos cinco minutos.
Enquanto roía os poetas
hoje não tem poesia:
não há motivos pro verso
e muitos poetas morreram.
os outros poetas que restam
são vermes roendo as entranhas
dos corpos desenterrados.
os declamadores sensíveis,
que enchem os anfiteatros,
tossem, engasgam com o cheiro.
os cidadãos razoáveis
caminham solenemente,
que hoje não tem poesia.
May 10, 2008
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6 comments:
Gostei da imagem do "sapo pequeno pisando em folhas de um lago" atrelada a imagem do indivíduo contempoâneo, que come tudo pelas beiradas e de quase nada sente o gosto.
Obrigada pelo comentário lá no maná. Qdo quiser, visite o meu blog tb!
=)
Obrigado, Priscila! Já adicionei aos meus favoritos e estarei por lá sempre que possível. Quando pensei a imagem, lembrei-me daqueles esguios sapos verdes, sabe? Então...
como vai caro amigo,
não gostei tanto do poema, por achá-lo pouco inspirado.
mas a imagem do homem urbano, assolado por suas divisões, repleto de vontade de amar, mas cada vez mais distante de saber como ...
que tal um poema sobre isso, guto ?
bora fazer um cada um ?
Acho que sei...rs
Bom estar entre os seus. Mas só pra constar: tenho escrito em doses homeopáticas, afinal, são muitos os "focos de atenção" aos quais tenho que me dirigir cotidianamente...rs
Até outros posts!
Salve, poeta, obrigado pela Presença e pelas críticas. Pensarei bastante a respeito. À mais nova "colega de trabalho", visitarei sempre e satisfaço-me com a homeopatia. Arte e abraços a todos.
Pois aqui vc me lembrou foi Bandeira caindo de pau no sapo-boi parnasiano (não foi, foi, não foi):
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . .
bj, f
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