Jul 30, 2007

Menina da noite

Caríssimos! Estive ontem em Campinas finalizando o cd e gostei bastante do resultado. O medo original por alterar uma certa concepção estética estava me gerando muita ansiedade, mas ao ouvir as canções, a angústia se desvaneceu e pude passar uma tarde assistindo a Dvd's e depois encontrando uma senhorita muito querida para mim no cinema (aliás, agradabilíssimo "Ratotuille"). Fruto disso, na volta, ao som de João Gilberto, me veio esta canção. Espero as opiniões (críticas e elogios) acertadas de sempre!


Menina da noite

Abra pra ver,
Menina da noite,
Permite um pouquinho
De sorte pra mim.
É lindo rever
Teu corpo celeste,
Se desenvolvendo
Feito escuridão.
Será que nós dois sentiremos
Se amarmos demais?

Abra pra ver,
Menina da noite,
Fabrica as estrelas
Cadentes, festins
Do universo.
Encobre os amantes
Furtivos, protege
De vez a paixão.
Será que ainda restam
Segundos banidos nas horas?

Abra pra ver,
Menina da noite,
Revida uma parte
Da morte pra mim.
Sorrindo que a lua
Virá como festa
Ou como presságios
De decepção.
Será que somente por hoje
Ontem pode ficar?

Abra pra ver,
Menina da noite,
Arrasta no mundo
Teus ressentimentos...
Eu sinto chegar
A aurora!

Jul 28, 2007

Um poema da nova safra

Menina de tranças sentada no banco

ela gosta
va mesmo
era de andar
de carro

mas como sua mãe morreu cedo
hoje
seu pai acha que não deve perder tempo
com o desejo das mulheres

e ela fica de um banco
à frente da casa
contando as partes de vontade
que sombram quentes pela marginal

Jul 27, 2007

Entre Campos e Caeiro

Salve, salve! Após uma eternidade de silêncio, salve! Salve! Nos últimso dez dias, além do envolvimento com as gravações (que terminam a mixagem final no domingo), estive nas bordas do mundo, como costumo dizer. Minha banda decidiu por passar uma semana num lugar totalmente isolado ensaiando. Fora a experiência de tocar numa casa encravada no meio da Mata Atlântica, todas as evoluções que conquistamos nestes últimos dias valeram o esforço de levar os instrumentos pela trilha ou de barco até a casa. Não me prestei a fazer deste blog um diário, mas sim estímulo qualquer de raciocínio lírico, por isso gostaria de chamar atenção para o fato de que, neste exato momento, há um segundo pedindo licença, e depois outro, e outro ainda, num processo que tende a ser infinito (conceito) enquanto durar o homem. Triste, feliz, entusiasmado, desiludido, amando, desamando ou indiferente, lá está a fila dos segundos próximos e estes entrarão no nosso tempo pela ordem para sumirem breves ou prematuramente, quando não despercebidos. Ou decidimos de vez tomar a vida pela proa ou ficamos feito um dos sambas que parceriei lá na praia: "Se você sabe, amor, que a vida passa e, em vão, a gente faz da desgraça a procissão. Por que é que a gente se move? Bem ou mal tudo some, o amor por fim vira graça e a gente não". Muita inspiração nesta véspera de amanhã.

Jul 14, 2007

Volta

Voltei a produzir muito, poemas, músicas, roteiros, experimentalismos, idéias, como se um peso incrível fosse me tirado das costas de uma hora a outra e voltei a cantar de maneira menos desagradável, o que é um alívio. O interessante é que não sei se isso decorre do fato de eu estar de licença do trabalho ou de algumas certezas que tenho adquirido. Não, não voltei a acreditar no amor. Não neste amor súbito apregoado pela nossa incapacidade de lidar com a tristeza da morte. Não, não acredito no trabalho. Também não neste trabalho que apaga o resquício de um diferencial criativo que nos distingue das máquinas e dos bichos. Muito menos tenho acreditado em mim. Pelo contrário. Cada vez mais minhas produções me soam infantis e despreparadas. A certeza que tenho é a de que eu faço exatamente o que era para estar fazendo. Finalmente, depois de um grande ciclo, estou de volta à Harmonia. Em todos os campos da minha vida, tenho esta sensação íntima de estar coincidente com a história que se escreve em mim. Esta, uma sensação indescritível que me alimenta tanto a alma. Muito calma aos entusiastas do entusiasmo, não significa claramente felicidade; mas a felicidade possível, para mim, já se constitui uma grande coisa!

Jul 13, 2007

A volta do título

Só um poeminha...

Dois e trinta

nas imensas barcas metálicas do engano
não há poesia
há queixos de lado vistas ardentes pálidas
melancolias
antes do crepuscular estado lírico
os músculos rangem conjuntamente
dando-se por organismo
e as falas – barcas metonímicas – destriunfam
diluídas no barulho

um gorro negro de olhos encobertos balança a cabeça
negativamente
a atenção de uma mulher feia
ancora suas esperanças
há um cordão místico e imaginário
bips toques lábios
confessionários invisíveis
os átimos seguintes urgem no ar
desnecessários os olhos-desesperos da mulher feia

Jul 10, 2007

Tive a idéia ontem à noite e pretendo viabilizar logo logo, como um roteiro de Festival de Minuto, sei lá, uma vinheta etc. Espero duras opiniões.

Pai Nosso
Guto Leite

Cena 1, interno, noite, quarto do fiel:

Um homem com cerca de trinta anos e roupas confortáveis está ajoelhado ao lado da cama rezando o “Pai Nosso”. De seus dedos caem fios transparentes. A câmera começa focada nos dedos do orador, enquanto segue abrindo até abarcar toda a figura do fiel e também vislumbrarmos que no outro extremo das linhas há uma marionete idêntica ao homem que reza. Este movimento se encerra na frase “Assim na terra como no céu”.


Cena 2, interno, noite, quarto do fiel:

A segunda parte da oração se inicia, enquanto a câmera começa a acompanhar os fios até enfocar o boneco que também tem uma cama ao lado e fios saindo de seus dedos para um boneco ainda menor. Quando a câmera chega a um ponto razoável, pode-se ver um homem, de carne e osso, terminando a sua oração. Assim que diz "Amém", ele tira os fios dos dedos e também das costas e deita-se de lado na cama.

Jul 9, 2007

Dez dias deixando o blog às moscas, sem escrever uma linha, mas por ótimos motivos. Estive em ensaio, depois em estúdio, preparando minhas próximas duas músicas gravadas seriamente. Volto na terça-feira que vem, dia 17, para o acerto dos detalhes e a masterização final. A parte que não me compete ficaram muito boas, agora só espero não estragar tanto com minhas voz e interpretação. Longe também por ter sido show de estréia da minha nova banda, cuja proposta consiste em mpb cover e sons próprios, sons de contestação. Tocamos pra um público bastante hostil a este tipo de música (adolescentes), mas até que conseguimos causar comoção, apalusos, elogios e afins, o que me deixa bem esperançoso. Houve até uma grande pergunta, transcrevo-a: "Por que escolher músicas que protestam?". Minha natural resposta: "Porque acho que existem motivos para protesto.". Depois fiquei pensando sobre a possibilidade dos jovens de hoje não acharem que existam motivos para protestarem, esta, uma possbilidade, no mínimo, perigosa. Por fim, estão fechadas as datas de lançamento do meu próximo livro, dias 31, aqui em Sampa, e dia 07 de Agosto lá em Campinas. Todos os leitores do blog, obviamente, serão muitíssimos bem-vindos. Vai ser um prazer rever os amigos de sempre que postam por aqui e ainda mais conhecer os amigos que sempre postam, mas que não conheço pessoalmente. Enfim, muito tempo sem postar dá nisso: verborragias despropositadas. Desculpem-me a falta de sobriedade! Fechando com uma bravata coerente, como diria um grande amigo dos tempos de juventude (vocês se surpreenderiam, talvez, ao saber como um autor pode ser amigo íntimo de alguém em certos tempos): ao vencedor, as moscas! O que quer que signifique vencer, moscas, elipses de verbo etc.