Lendo o e-mail de um amigo (Heyk Pimenta, dono de excelentes versos, link do blog ao lado), redescobri-me o velho rato de livros que sempre fui. Nos seus relatos de encontros literários e saraus públicos, lamentei (mais um vez) minha costumeira escolha de permanecer em casa quase sempre. Disso guardo várias recordações... Meus amigos jogando bola, eu esgotando Machado. Meus meses enclausurado buscando Rimbaud, "Ulysses", Pessoa. Nas aulas colegiais, de walkman e casaco, pra poder minimizar a perturbação dos meus versos. Claro que as musas que frequentemente passaram por todos esses anos sempre valeram a escolha. Não ultimamente, quando elas têm me faltado.
Anomalias em recentes exames clínicos colocaram em cheque meu espírito misantropo. Se eu morrer hoje, terei vivido a contento? Obviamente sei que parte do meu "talento" é culpa dos meus olhos ainda não balzaquianos, mas esgotados de leitura. Mas também, tão óbvio quanto, sei que perdi tantos mundos nos meus tempos de silêncio, dispensei tantos encantos pelos encantos escritos, que não há como medir o tanto que hoje não sou.
Uma outra conversa que tive, essa com minha mãe, no último domingo, talvez resuma a questão. Ela me relatava uma ocasião que ocorrera numa classe de estudos em que lecionara e inquiria minha opinião. Eu, não de bom humor (ou cheio dele), atalhei: "mãe, as coisas existem e só. O resto é circunlóquio". Minha mãe sorriu de susto.
Se eu morrer amanhã, morri.
no entorno das paredes
ao meio exato do instante
em que o jovem atropelado
teve seu rosto unido
às paredes do edifício
lamentou não ter vivido
antes de entender o lapso
de que ver o outro é julgar
pela aparência o vazio
Jul 21, 2008
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
3 comments:
Meu querido, quanta coisa, hein? sinto afinidades aqui. Ver o outro é perder de vista o semblante. ando achando que é nesse hiato que se faz o poema. Mas, eu? Estou em pleno vácuo e sem resgate ;)))
Beijos,sempre.
Mas viu, estou aos poucos degustando o teu livro. Assim que terminar tudo, eu te escrevo ou deixo um recado aqui.
não vá pensando que esqueci!
oi Béa, acho que quis dizer também este hiato, somado a outros, obviamente, um deles, este, de não haver resgate. Vai saber... Obrigado pela crítica, querida.
Mimi, sequer suspeitei de esquecimento. Continuo pacientemente como um despertar de urso.
Post a Comment