Mais de um pensador têm alertado para o fato de estarmos iniciando uma nova Idade Média em que o excesso de informação subsituiria a Igreja na ilusão de eruditismo das pessoas. Por exemplo: Caetano é ótimo, mas não é Rimbaud; Truffaut é excelente, mas não é Monet (ilustrei com quatro dos meus preferidos para que não me acusem de partidário!). Concordo com estes autores que a classe média (medianamente culta), termômetro balizador dos rumos culturais desde o Romantismo, tem feito substituições perigosas, mas, por outro lado, nunca como agora é mais hercúlea a tarefa de saborear todas as obras de arte precedentes. Bom, eu, ao menos, tenho essa sensação um pouco beneditina ao cabo das minhas horas diárias de leitura. Vai o autor, fica o poema.
esotropia
o lábio não é a boca do copo
os dedos não são as asas da mão
o mundo tomado às pressas no meio
por isso que divaga
somos todos internamente estrábicos
à mercê de forças que não temos
para coincidir os fatos e o desejo
que também vemos dois ao ver para dentro
Jul 25, 2008
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
11 comments:
Guto, parabéns! Teu blog (teus textos) é muito bom! Coloca o link lá no blog do curso.
Beijo
guto, se vc olha pra dentro e só vê dois tu é um cara de sorte :)
- - -
Olá!
Você me fez uma visita há muuuuito tempo atrás e eu ainda não havia lhe respondido. (Preciso me habituar a essa dinâmica do blog. Pergunte pra Tagg, minhas visitas a ela também são raras...rs)
Bom, enfim, sinta-se à vontade lá no meu blog, tá? Aliás, li algumas coisas suas e gostei bastante. Adorei o post e a imagem de "Exógeno" (a propósito, quem é o autor?).
Um abraço.
Meu caro, gostei do blog.
acesse este blog, para poesia não-mediavel.
http://existenznoexistenz.blogspot.com
Hummm, esse estrabismo pra pensar querer e desejo é matador, Guto!!!!!!!!!!!!!!
Invejinha, invejinha
ao que ódio rsrs
Tá deslimbrante esse novo.
E meus agradecimentos à namorada. Poxa, olha o presente!
Salve queridos, obrigado como sempre pela visita e, principalmente, pela clemência com as minhas experimentações às avessas...
Caro poeta, perco Aristóteles, mas não perco a imagem. O poema vem da descoberta desta doença maluca (real) de miopia não aparente... mas tens razão quanto à multiplicidade de desejos!
Lílian, lembro sim do teu blog, tempos, não? Os pensadores, se não me trai a memória, são Moriconi e Moretti. O primeiro num livro de Literatura do século XX, capítulo 6(?) e o segundo num artigo sobre Weltliteratur.
Obrigado também, Sérgio. Visitei teu blog, legal, algo de concretista, mas menos publicitário, mesclado com Pessoa, claro. Enfim, gostei bastante e pretendo voltar mais vezes! Quanto a mim, sou, no momento, aboslutamente medieval.
Béa, caríssima! Depois que fiz o poema, pensei exatamente em ti. Ai lá vou mexer de novo com estes conceitos da Psicanálise... que bom que não me atrapalhei!
A todos nós, o próximo fracasso ou o próximo deslumbre! Arte!
fatos e desejos, bem como intenção e conclusão, raramente são eventos coicidentes.
beijo, Guto
"Internamente estrábicos". bom!
Grato, Mimi e Rachel. Sempre bem-vindas para impressões, críticas, sugestões, comentários e afins...
Muita arte a todos!
Guto,
pelo que tenho visto aqui no blog, da sua poesia,posso sugerir um autor Português? António Ramos Rosa. Se já leu, perceberá porquê.
Acho que tem muito a ver com a sua forma de sentir a poesia.
Filipa V. Jardim
Caro Filipa,
obrigado pela indicação, como bom obsessivo, sairei em busca. Obrigado também por tuas passagens por aqui. Bom ter contrapontos d'além-mar nestes escritos.
Grande abraço
Post a Comment