Depois de outro festival, reencontros, reuniões de roteiro, decepções, conquistas, momentos insólitos... cá estou de volta. De certa forma, em aperto, porque decidi escrever um projeto "como quem não quer nada" para a Unicamp, cujo prazo de mestrado se encerra em dez dias. Bom, já seria algo bem complicado se eu dominasse o tema, mas tomo a missão de falar sobre teatro brasileiro e ler sobre o assunto, em tão pouco tempo, como um exigente desafio. Volto também com algumas idéias. O livro, que mandei aos leitores que pediram, está sendo aumentado com novos poemas e pretendo estudar meios de lançá-lo sem qualquer referência a autor. Nem que seja por edição própria (não sei se a 7Letras toparia algo do gênero), pretendo apagar o nome do autor dos meus poemas, e, em seguida, das músicas, quadrinhos, filmes e, por fim, ou antes de tudo, do blog. Talvez apagando essa instância que responde (e recebe, "€", por isso) eu consiga me livrar da sombra mercadológica que incomoda meu fazer artístico. Talvez, contudo, seja só uma iniciativa juvenil e desesperada. O importante, ademais, é que não faz a menor diferença e esta liberdade, acima de tudo, tem se tornado muito o meu momentâneo alento. Chega de um paradoxal prestar de contas do sujeito, fica um dos vários poemas que fiz nestas andanças "produtivas".
Pulso
tenho um agora que se estende
pelo tempo de uma vida
mesmo que a alma balance
para aquém e adiante
− como os dedos de um menino
preso ao balão flutuante −
o tato é um começo de tato
as superfícies claudicam
os sons têm olhos histórias
os cheiros desprendem corpos
são sempre todos os mundos
sobrepostos no instante
difícil é manter a força
o som do pulso no pulso
− deixar de romper a linha −
se tudo que há não há
a qualquer hora eu morro
de descuido
Jul 18, 2008
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
12 comments:
"se tudo que há não há"
um dia no futuro vc poderá ser responsabilizado por tiros assim, meu jovem amigo hehe
o poema ficou excelente, e se vc começar a lançar tiros assim ao anônimo ao vento rumo ao peito dos que os topam, aí vai ser fogo no milharal hhehehe
Legal demais..
nossa..
"Mesmo que a alma balance.
Para aquém e adiante"..
muito bom.
Amei.
beiJO grande.
morre nada! tá lindo!
sobre o textinho , meio doidinho, viaja, mas não pira, gutinho!
ah e faltou dizer que tava com saudade de mim!
bj, bjs, bjs, saudades, Flávia (gripada, rapidinha, mas com carinho)
Sim, no final das contas você risca a si próprio, e desaparece fisicamente....
não acho que seja caminho sumir com o autor para se livrar do mercadológico..... penso assim pois isso é também fuga da responsabilidade do artista pelo que fez..ou vai fazer.... sei lá. O mais dificil (na minha concepção) é assumir a identidade "artista", e depois, ser reconhecido como pelos outros.
Acho que você esta misturando tudo..... fuga.......... no poema ficou boa, a fuga quase que por descuido!
Abraço, e com saudades de repartir a angustia, e angustiado com a idéia de retirar o rótulo da identidade!
correção do cometário anterior: lê-se personalidade em identidade... mas acho que as duas palavras cabem no que eu disse!
Salve, queridos! Obrigado por tantos e significativos comentários. Ao poeta, pela generosidade. À Anne, pela volta. À Flávia, pela graça (só terei saudades sentidas quanto tivermos passeios, barganhando). Ao Gui, pelo meio-ombro.
Ainda não se apagou (retomando a expressão do marujo) a idéia de não responder pelo que faço, como se qualquer um o fizesse, e o faz!
Abraço e uma arte de domingo a todos!
Ah, só quando tivermos passeios? Defina passeios... não me faça te provar o contrário...
Posso ser tão má, além de graciosa, guto, querido...
agora te vira com isso - vou te matar de saudades, até redefinires "passeio", até fazeres dessa palavra tua mais dolorosa, quiçá, ardente, licença poética
hasta la vista baby
f
Como eu faço para ver esse livro que ainda não publicou?
Ai ai
Viva! De volta depois das andanças descritas discretamente, mas revelando grandes descobertas. O poema é direto, forte. Com esse pulso no pulso acho difícil vc romper a linha, descuidar-se. Dá vontade, mas depois passa. Achei interessante a idéia de apagamento do nome, da autoria. Não entendi muito o motivo. sei de experiências de uma revista Tel quel, anos 60, editada pelo Philippe Sollers, que brincou com isso. Se quiser depois conto. Não me parece que tenha qqer coisa a ver com $, mas outras coisas muitas;))
Boa sorte no projeto para a Unicamp. Saudades sentidas!
Mais outras vez agradeço aos abraços, pelos versos. Às saudades que escrevem...
Obrigado, por mim mesmo, pelo carinho e pelos votos! Fazem-me mais poeta!
É Guto entendo esse seu questionamento com relação a “assinar” ou não uma obra. Numa época como a nossa de nomes fabricados, aplausos duvidosos, grandes criadores sem obra...Bem acho que no final das contas o que realmente vale e que se perpetua é o trabalho feito, todos passam a carne perece, mas o poema há de ficar. O velho papo da honestidade e entrega artística. Bom talvez uma possibilidade seja seguir os passos de um Pessoa se desdobrar se tornar outros, um outro Guto rs. Peguei emprestado o poemas lançados fora com o Isaac, já achei bem interessante o fato do nome do autor não estar impresso na capa e sim na parte de trás do livro. Há muitos poemas realmente bons no livro, destaco alguns: volátil, da casa dos desprovidos, de um lado a outro, o h com uma boa dose de humor e um jogo sagaz com as palavras e o jejum e o na dosagem certa sem dúvida dos melhores do livro. O livro é rico pelas variações e pela regularidade do alto nível dos poemas.
Quanto ao pulso, gostei dos versos casados, em pares de sentidos e vibração, é isso
Abração e até.
Caro Will, tua leitura já é um privilégio, meu caro. Obrigado demais pelas boas críticas, fazem seguir em frente. Sim, tens razão sobre o nome no verso. A editora estranhou bastante meu pedido, pediu explicações e tals, mas acabou topando! Há tempos que ando às rusgas com esta tal de autoria! Cara, sinceramente, com atual estado de precariedade cultural, faz realmente diferença quem assina? Questionamentos...
Post a Comment