Às vezes acho em meus arquivos coisas tão antigas! Como este conto, com quem devo ter lutado em 2003 ou 2004, época em que ainda não os temia. Bom que é curto, que quase não existe. Muita arte a todos nesta sexta! Apaixonem-se, por favor!
Déja vu
Quem poderia imaginar que a solução tão buscada para seus anseios se revelaria de forma tão simples? Fez economia por trinta e quatro meses, acertou os detalhes para que os outros pouco sentissem a sua falta e comprou um discreto, mas eficiente, veleiro. Dentro dele, depois de esperadas tormentas de viagem, com a ajuda das estrelas e de um GPS, estagnou-se a poucos metros da Linha Internacional de Mudança de Data. Como a Terra segue de leste para o oeste, indefinidamente, até que provem o contrário, uma vez ao dia, desprende a âncora e manobra seu barquinho pelo vento dentro da região limítrofe e em direção oposta, permanecendo, assim, sempre, no mesmo dia. Em algumas semanas, notou não se sentir mais entediado. Em anos, sua aparência em nada envelheceu, além do comum acobreado de uma vida de marujo. Pesca várias vezes ao dia para hidratar-se. Circunda o barco a nado por alguns metros quando o dia se mostra quente. Achou a eternidade no ermo, na capacidade de deixar de se fazer completo a cada instante. No soslaio de parcos viajantes, fez-se imóvel e eternamente em trânsito, diluiu-se no espaço e no tempo, como a paisagem do segundo antes.
Oct 2, 2008
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5 comments:
Oi Guto, como sempre um deleite.
Mas nõa espalhe a notícia ou começarão a cobrar para ficar com o barquinho por lá.
Pessoalmente eu gostaria de estar sempre no por do sol... beijos!
PS - também acho que a minha 1 vida me dá trabalho suficinete, mas pelo visto tem gente que tem pique pra mais.
Que conto, o quê?!
Pensa que eu não vi a poesia escondida?
A imagem, genuinamente poética?
a cadência indisfarçável dos versos?
me engana que eu gosto!
(maravilhosos! adorei!)
bj, 'brigada pelo "inteligentíssima" da outra caixinha!
Flávia
Sabes onde posso comprar um gps?
Mui belo e poético, a Flam está certa.
Abração saudoso.
Rá.
Lampejo de Cortázar, Borges, Garcia(s).
Bela sacada. ;)
Obrigado pelos elogios, caríssimos! E a Flávia acertou no ponto, sei tão pouco de prosa que, mesmo nela, faço poema. Tive um amigo (estranha expressão, mas há muito não o vejo) que dizia exatamente isso. "Pra mim, é poema", grave, como se fosse pecado. Abraços muitos e bom "feriado" de eleição.
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