Ontem vivi uma noite estranha. Após as oito horas de aula da especialização, em vez do costumeiro cansaço, cheguei em casa na pressa de organizar o novo projeto. Tive a idéia durante as aulas. Em "aperitivos & sobremesas", misturarei poemas mais ligados à tradição com alguns mais usados. Também decidi por dividir o livro em subtítulos segundo um cerimonial de jantar - um pouco à mineira - sem, obviamente, o prato principal, que o título apaga. O resultado foi que passei quatro horas e já tenho cerca de 80% do livro terminado. Ao menos o primeiro fim, que costuma andar bem distante do último. Como são todos os primeiros fins, de suas contrapartes maiores. A noite, da morte. Os olhos, do beijo. Calei uma série de metonímias.
o rio
nunca gostei de dois
sou um
corpo
baixo
fraco
larguei o catecismo nos estudos da trindade
a tudo que me juntei
coisa gente ou lugar
veio a morte
uma
depois da idade restar-me
senhor absoluto
vi minha neta apontar o córrego
e fazer barulho de s
s
s
abri um sorriso açude
que falta faria às coisas
o consolo de haver mais uma
ói vô
o rio
o sorriso seria o rio
("aperitivos & sobremesas", em "pães de queijo com manteiga", Guto Leite, não editado)
Jun 29, 2008
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5 comments:
Hahahha, isso eu tbm boto fé (ah, boto fé é o meu novo cagoete, só tõ falando isso).
COmo pode, eita pretensão boa.
Já tem o livro numa noite quase pronto. VIva a verve do poeta.
O tainho paes fez o último agora assim tbm. Viu umas besteiras numas viagens e do argumento a publicação foi menos de uma semana.
Legal Gutão.
E gostei do poema. Pô, eu sinceramente quebraria aí os versos. Isso tá gostoso aí como prosa.
Arrebenta, rapaz. Chegado e cheiroso. Viva.
Me escreve, podendo, pra contar as novas, e me dizer o preço do livro, safado. Abraço.
olhaí, meu velho ! livro novo chegando, cheio dessa energia mineira que jamais poderia estar distante da culinária, seja gastronômica seja metafórica.
o poema vem numa linha um pouco diferente do que eu li em "poemas..."; este me agrada mais por ter sido um tiro absolutamente certeiro mas essas comparações nem fazem muito sentido;
tou a fim de ler esse novo tento, que rasteira o poeta nos prepara ?
o abraço
Que poema tão doce =)Parece leve e maduro ao mesmo tempo.
E em minas tem açude?
Aqui nao tem. nem sanga!
Escrevi um poema líquido só para usar essa palavra. Nao lembro se vistes. Um maigo mostrou a foto de um açude e eu lembrei da palavra e da coisa em si. Depois vi alguma outracoisa aquosa lendo Lispector e aí veio o poema, inundando... hehe
Ai que fique pensando em estância, estância gaúcha quando li... e sorri! cheio de SSSSS
gostei!
um pouco estranho
mas gosto de lagartas listradas
bj, f.
Bons e precisos comentários, que beleza!
Heyk, só juntei tudo numa noite. Só o Pessoa mesmo pra saber capaz de escrever O guardador de rebanhos de uma hora pra outra. Isaac, obrigado pelo incentivo da curiosidade, o mais genuíno e confiável. Dani com tuas palavras de confeiteiro e Flávia com tuas frases exóticas, fauna de campo.
Gosto de tudo, guardo tudo. Escrever é puxar um fio da cabeça
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