Aug 21, 2010

L'image juste

A quantidade de postagens neste blog nos últimos cinco meses mostra o quanto estou correndo de um lado para o outro. De certo não é o termo exato, porque pressupõe confusão (existente, claro, mas que não deve ser central).

A imagem, ainda não boa, que me ocorre é a do vaqueiro tentando conduzir o rebanho pelo cerrado seco (eu ia usar o pastor de ovelhas, metodista, europeu e chique, mas em homenagem a Mário de Andrade...). Não boa porque minhas vacas (o mestrado, o livro recém lançado, o cd ser gravado nas próximas semanas, a Brique, meu livro novo, um começo de romance, o Trombone etc.) jamais se movimentam sozinhas e conseguem ter ainda menos iniciativa do que seus originais em couro e carne. Talvez as vacas da cow parade, mas que são pops e coloridas demais para a metáfora.

Tá aí, sou um artesão no começo do século passado, no começo da tarde com uma pilha de trabalhos a serem feitos, com seus diferentes prazos e especificidades. Um o cliente vem buscar daqui a meia hora. Outro o cliente vem ver a cada quinze minutos, mas sempre adia a retirada. Há ainda o que contratou os meus serviços por mensageiro e que, embora seja muito recomendado, assusta-me com a possibilidade de não vir. No canto há aquele outro de que mais gosto, mas que pelo tanto de afazeres, dificilmente poderei trabalhar nele até o fim do expediente. (Isso sem contar que tudo o que sou está com os dias contados, mas, para ser verossímil, meu artesão não pensa muito nisso).

É, quando o real está cheio, não há uma imagem justa.

Aug 6, 2010

Reflexões de rascunho

Chego de viagem e, na velocidade dos olhos, encontro a cidade de Porto Alegre. Fria nesta época do ano, de todos os anos, alterna dia a dia uma chuva gelada e punitiva e baixíssimas temperaturas.

Nem sei se posso dizer isso, mas talvez a cidade seja a prova de que poesia e "tristeza" (coloco aspas por não saber o que é) não sejam práticas indissociáveis.

Sob a chuva ou sob o frio, os sorrisos ficam escassos na cidade destes dias. No entanto, salvo engano, jamais morou nesta cidade um poeta maior. É provável que nem tenha pernoitado em algum de seus antigos hoteis. Tampouco no Brasil quente, litorâneo e corporal de latitudes mais baixas, já eximidos (os poetas menores, todos os poetas brasileiros) pelas temperaturas amenas e pelos sorrisos rápidos. (Talvez o único poeta maior brasileiro seja pernambucano. Terra do sol e do frevo).

Ao poeta é preciso consciência. Extrema, incansável, insone, universal. Os sentimentos que resultam disso são irrelevantes. Às vezes, as palavras que resultam disso são relevantes.